De A a Z, tudo se pode fazer DE OUTRA MANEIRA...
 

O fim do padrão de ouro

Recycling Petrodollars

If Exxon pays Saudi Arabia $50 million, all that happens is that we debit Exxon and credit Saudi Arabia. The balance-sheet of Citybank remains the same. And if they say they don’t like American banks, they’ll put it in Credit Suisse, all we do is charge Saudi Arabia and credit Credit Suisse: our balance-sheet remains the same. So when people run around waiting for the sky to fall there isn’t any way that money can leave the system. It’s a closed circuit.

(Walter Wriston of Citybank 1975?) Modern Times, Paul Johnson page 671

In 2007 Alan Greenspan was asked which candidate he was supporting in the presidential election answered:

How I vote does not matter, because we are fortunate that, thanks to globalization, policy decisions in the US have been largely replaced by global market forces. Nacional security aside, it hardly makes any difference who will be the next president. The world is governed by market forces.

Algo aconteceu em 1971. Num universo dominado pelo dólar, em que o edifício financeiro internacional se tinha tornado uniforme e dominante, o Dólar abandonou a convertibilidade por ouro, pondo um fim ao Bretton Woods.
Isto permitiu elevar ao infinito a arma favorita do domínio financeiro internacional: O Suborno.

Tomemos Angola como cenário simplificado e apenas como exemplo :
Independência seguida de guerra civil. Financia-se o Savimbi para que possa comprar armamento americano. Savimbi vende diamantes para pagar os juros.
Compra-se o petróleo de Cabinda pagando ao Governo de Luanda, que por sua vez angaria mercenários cubanos em troca de dólares. Para Cuba, esta era na altura a mais importante fonte de moeda internacional.
Neste contexto tem-se o governo e a oposição na mão. O mercado do petróleo depende do sistema de pagamentos internacional em dólares, e do qual o governo de Angola não tem, nem pode ter qualquer saída. E com o sistema SWIFT é possivel seguir a circulação subsequente desses dinheiros, o que confere enorme poder a quem tem acesso a essa mesma informação. Os EUA.
E também se tem na mão o Savimbi. Quem paga manda.

No século dezanove usaram-se as mesmas tácticas. Os ingleses e o Banco de Inglaterra com os marajás da Índia, as potências e bancos europeus com os países árabes. Mas com o padrão ouro vigente na altura, o dinheiro bancário podia ser convertido em metal a qualquer momento, durante os pagamentos subsequentes que eram a circulação normal dos fundos no sistema. E o ouro poderia muito bem acabar no tradicional sorvedouro que era o Extremo Oriente. E apesar do Banco de Inglaterra ser dominante, o sistema bancário mundial estava menos integrado que hoje em dia. E junto com o padrão ouro, tudo isso punha um limite ao montante do suborno “aos savimbis” da altura.
Mas no caso de Angola, sem o padrão ouro, o suborno do Savimbi será apenas um número nas folhas de balanços dos bancos. E como não há saída do sistema que é fechado, qualquer que seja o tamanho do suborno, acabará por voltar à origem de que nunca saiu, e que é a rede bancária mundial. E como o dinheiro é fungível, mais cedo ou mais tarde emergirá sob a forma de Títulos do Tesouro em circulação, que o Banco Central absorverá na sua folha de balanços, esterilizando assim as quantias criadas a partir do nada pelos bancos comerciais. É o Quantitative Easing. E os Títulos irão repousar para sempre, inofensivos, na contabilidade do Banco Central.
O bizantinismo das técnicas contabilísticas de dupla entrada nas folhas de balanços dos bancos, oferece uma cortina de névoa só penetrada pelos iniciados da alta finança.
Mas o nevoeiro parece estar a levantar.
E o limite da peita será a ganância do subornado, porque a generosidade do subornante é infinita.

Quando o Khadafi foi assassinado na Líbia, um dos primeiros a chegar foi a Goldman Sachs, em visita à nova satrapia. A mesma firma que numa altura ou outra deu emprego a :
Mario Draghi ex presidente do BCE
Mark Carney governador do Banco de Inglaterra
Malcolm Turnbull primeiro ministro da Austrália
Romano Prodi ex primeiro ministro Itália
Robert Zoellick ex presidente do Banco Mundial
Ex secretários do Tesouro Americano nomeadamente :
Henry Fowler, Hank Paulson, Robert Rubin
Josh Bolten ex chefe do pessoal da Casa Branca
Steven Mnuchin da equipa do Trump
Que o poder de Goldman Sacks é antidemocrático, é verdade de monsieur De La Palice. Que o sistema actual promove uma desigualdade abismal e o perpetuar dum Precariado (Proletariado temporário) pobre, endividado e ignorante, é evidente. Mas para imaginar uma alternativa ao corrente sistema, é necessário um corpo de educação e conhecimento que faltam em geral a um cidadão como eu, ou ao político comum à procura duma sinecura nas próximas eleições.
E à falta desse conhecimento, nem sequer podemos dizer com congruência que a hidra financeira internacional é boa ou má. Comparada com quê ? É difícil imaginar um sistema alternativo.
Temos apenas que aturar.
E um sistema bancário democrático é um absurdo conceptual.

Mas que tudo isto cheira a esturro, lá isso cheira…

José Luís Vaz Carneiro
Tucson, Janeiro 2021

Fotos de Manuel Rosário

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Escrito por

Curso em Medicina FML 1975.  Clínica Geral em África, 3 anos. Residência em Medicina EUA, Mount Sinai School of Medicine, Board certified. Hospitalista por 20 anos em hospitais dos EUA, reformado. Professor Agregado de Medicina, ano lectivo 1998 Yale University. Curso de Finanças e Banca Prof Perry Mehrling. Hobbies~Guitarra Clássica, Economia, História, Arte, etc

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Últimos Comentários
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    Lúcida análise do artigo sobre o fim do padrão ouro de José L Vaz Carneiro