Inflação salvadora. Com o endividamento astronómico de firmas e empresas, a Repressão Financeira vai de vento em popa. Taxas de juro inferiores à taxa de inflação, garantem o desaparecimento gradual da dívida no universo do dólar (ver Richard Koo e as Balance Sheet Recessions), tal como a dívida da WWII dos EUA foi escamoteada ao longo dos anos do pós guerra.
Obrigado pela inflação, guerra da Ucrânia.
Avisam-nos nos media que a guerra pode durar anos. Meus cumprimentos ao Complexo Militar Industrial a aos accionistas internacionais das fábricas de armamento. Um futuro próspero e garantido.
Com a taxa de natalidade a cair, a Europa acolhe com entusiasmo os refugiados. Finalmente volta a ter criadas domésticas, trabalhadores precários na agricultura, hotelaria, restauração. E depois, ao contrário dos sírios são bons cristãos e têm uma cultura semelhante à nossa.
De volta à guerra.
Depois do colapso da União Soviética a NATO tornou-se redundante. Como ameaça à Europa, a Rússia deixou de ser credível.
Mas a invasão da Ucrânia mudou as perspectivas. E agora, com o urso russo encurralado, desdentado e desunhado, os europeus descobrem entre eles a necessidade de autonomia em relação à NATO e aos americanos, e formam clubes com intenções bélicas “defensivas”, como a Joint Expeditionary Force (JEF), European Intervention Initiative, European Union’s Permanent Structured Co-Operation (PESCO), etc. Arrogando-se ao direito de iniciar conflitos por conta própria, bastando para isso sentirem-se ameaçados e sem sequer precisarem de maioria no grupo para tomar decisões (agimos prontamente enquanto a NATO pensa, dizem), é tudo duma ligeireza pueril e assustadora.
E quando a Finlândia alinha nisto (o país mais feliz e civilizado da Europa, como menciona Jeffrey Sachs), ficamos estupefactos!




Mas já não era sem tempo que a Europa abdicava dum Complexo Militar Industrial (CMI), como os americanos. Os orçamentos militares aumentam e começa o envio maciço de armas para os ucranianos que são encorajados a prosseguir a luta, presumivelmente até à extinção dos combatentes, uma vez que soluções negociadas parecem difíceis. E tal como o Iraque, Síria, Afeganistão, isto vai durar anos, alimentando o CMI com a ajuda à Ucrânia em armamento.
Mas os americanos recusam mencionar quaisquer negociações. E quem há sete anos falhou o Minsk Agreement foi a Ucrânia.
E entretanto perseguem-se os oligarcas, banem-se artistas russos de teatros na Europa, proíbem-se gatos russos de concorrer em exposições felinas, como se estar relacionado com a Rússia fosse a marca do diabo. Tudo isto a um nível intelectual e moral patético, como num filme barato do Rambo.
A falta de senso comum tem que esconder intenções ocultas. A estupidez geral faz-nos desconfiar. O silêncio da China cheira a esturro.
Estamos a armar-nos até aos dentes, é a mensagem enviada.
Acabar com esta guerra parece elementar. A Ucrânia abdica, por tratado, nunca fazer parte da NATO, desiste da Crimeia e negoceia a autonomia de Dombass.
Ponto final.
E como gosto de sofrer, acabei agora de ler The Origins of the Second World War de A. J. P. Taylor.
Voltamos aos anos trinta !
(ver The Economist 14 Março, 2022, e Jeffrey Sachs no Youtube)
José Luís Vaz Carneiro
Tucson, Maio 2022