O dinheiro não traz felicidade, mas ajuda-nos a tolerar melhor a pobreza
Nasci e cresci com uma relação desconfortável com o dinheiro. Não porque não o tivesse, mas porque tivesse tão pouco que a vida era um constante balanço de opções, uma espécie de agonia a fogo lento que me limitava a escolha, e conspirava para me constrangir o futuro a um número bastante limitado de opções.
E embora com o passar dos anos tenha aprendido a contornar esta limitação, a experiência inculcou-me na alma não só uma profunda reverência pelo dinheiro, como a certeza que o dinheiro é a medida fundamental da realidade, uma espécie de bitola que traz ordem à nossa visão do mundo. O dinheiro estabelece hierarquias, rege as nossas relações uns com os outros, e traz propósito e drama à vida, é o dinheiro que articula e dá razão a ideologias, a classes sociais e a lutas de classe, a romances permitidos e proibidos, e, num extremo, regula quem vive e quem morre. O dinheiro é a matéria que anima a realidade, e com a qual a transcendemos. O dinheiro está para além da ética ou da moralidade, tanto é usado para a compra de armas que semeiam sofrimento e morte como para o desenvolvimento de medicamentos que salvam vidas.
É assim que abrigo a inabalável certeza de que o desprezo ao dinheiro é sempre mais teatral que real, uma espécie de desejo por atenção expressa tarde na vida, e com nenhum impacto na realidade.
Raramente há ironia nas minhas palavras.
Adelino de Almeida
Fevereiro, 2024
Pintura de Tetsuya Ichida, fotos de Manuel Rosário
Não há depravação em querer e ter que ter
A Economia era uma ciência que se manteve na periferia dos meus interesses até que, mais por necessidade profissional que por outra razão, lá tive que lhe prestar mais atenção, e o que se me tornou imediatamente óbvio é que é uma disciplina animada por um só princípio: consumo. Dos
Afundamo-nos na realidade da Madre Teresa
É à noite, quando a cabeça pesa no travesseiro, que os mais afortunados se apercebem daquele pequeno espaço que se abre constantemente por entre a torrente de pensamentos e memórias que nos impedem o sono. É nesse interstício que habita o profundo silêncio que nos permeia os dias. E é
Jose Vaz Carneiro | 2024-02-18
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Excelente artigo obrigado Adelino.
O dinheiro é condição necessária mas não suficiente para a felicidade. E a pobreza é condição suficiênte para a infelicidade.
E com o tempo o dinheiro não é tudo, porque geralmente não é suficiente.
Teresa Costa Cabral | 2024-02-19
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Como dizia um amigo meu ” o dinheiro não traz a felicidade mas traz uma coisa muito parecida…”