A Economia era uma ciência que se manteve na periferia dos meus interesses até que, mais por necessidade profissional que por outra razão, lá tive que lhe prestar mais atenção, e o que se me tornou imediatamente óbvio é que é uma disciplina animada por um só princípio: consumo.
Dos seus axiomas mais simples à mais tortuosa matemática que empregue, a Economia desmorona-se quando se remove aquele único pilar. Não conheço outra ciência ou arte que dependa tão inteiramente de um só princípio.
De facto, arriscaria postular que o consumo é o eixo que nos articula a civilização. Não importa se o nosso consumo é ético ou nocivo, consciente ou impulsivo, guiado por publicidade ou por hábito, o consumo é o que suscita a produção, a produção é que rege o nível de emprego, a qualidade de vida, o poder de compra, e tudo que caiba entre os mais exaltados aspectos da nossa civilização e os seus mais abjectos resultados.
E, ainda assim, há indescritível beleza no nosso consumo, na maneira como o ritualizamos, como lhe atribuímos qualidades, como faz parte das nossas celebrações, das diferentes etapas da nossa vida. Consumimos para marcar nascimentos, baptizados, namoros, casamentos, vitórias e derrotas, bons dias e maus dias, a vida é impossível sem consumo, e em vez de nos esforçarmos por o pôr em segundo plano no acanhado palco da nossa moralidade – como se consumir fosse a origem de todo o pecado – a nossa felicidade provém de reconhecermos que o consumo é também uma expressão da Verdade: se a inteligência – essa marca fundamental da nossa humanidade – pode ser artificial, o consumo nunca o poderá ser. O consumo é sempre real, absoluto, omnipresente, algo que pode ser intermediado por máquinas, mas cujo término somos sempre nós.
Por fim, se o dinheiro é o éter que nos permeia a realidade, o consumo é a sua incarnação, a manifestação física dos aspectos intangíveis do dinheiro.
Adelino de Almeida
Fevereiro, 2024
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