De A a Z, tudo se pode fazer DE OUTRA MANEIRA...

Ficção Científica

Num livrinho publicado nos anos cinquenta *, a finalidade dos Mutantes é a conquista do mundo. Donos dum conhecimento científico-tecnológico prodigioso, invadem o mercado com bens de consumo indestrutíveis, de duração ilimitada. O primeiro a aparecer foi uma lâmina de barbear que nunca era preciso afiar. A seguir foi uma lâmpada eléctrica que nunca fundia. Um isqueiro veio a seguir. Insidiosamente as indústrias envolvidas foram levadas à bancarrota. E as Gadget Shops surgiram por todo o lado, com produtos de duração infinita a preços baratíssimos, levando à falência os retalhistas locais e as indústrias respectivas. Apareceu o carro Eterno e as casas Para Sempre, tudo a preços ridículos que absorviam o dinheiro disponível que ainda havia para gastar. Aos milhões de desempregados eram fornecidas rações de comida sintética, os Carbohidratos. Contendo todas as necessidades nutritivas, mantinham vivos milhões de ociosos que era difícil manter na ordem.
E assim por diante…

 

Ficção Político/Económica

A finalidade da China é a conquista do mundo. Desde há trinta anos que invadem o mercado de consumo americano com produtos baratíssimos que tornam inviável a produção dos mesmos nos EUA. Com os milhões acumulados numa conta do Banco Central da China no Banco Central dos EUA, em vez de gastarem esse dinheiro comprando produtos de exportação americanos, emprestam esse dinheiro ao Governo americano, para que este possa pagar os subsídios de desemprego aos milhões de despedidos entretanto surgidos no país.
No resto do mundo, em cada aldeia, vilória, arrabalde ou cidade aparecem as Lojas do Chinês que levam à falência todo o comércio retalhista local, com preços subsidiados pelo governo chinês. Mas são muito populares, pelas elevadas rendas de aluguer que pagam generosamente, e pelos preços baixíssimos das bujigangas e quinquilharias que vendem. E perto de minha casa, o bébé chinês do simpático casal donos da loja, é português e chama-se Diogo!

 

De Pés na Terra

E chega de elucubrações. O facto é que ninguém pode prever as consequências a longo prazo da espantosa expansão chinesa no mundo de hoje.
O projecto “One Belt, One Road” é um plano de desenvolvimento envolvendo dezenas de países através da asia central, da China à Europa. Com a construção de auto-estradas, caminhos de ferro, portos marítimos, e associada infraestrutura de energia e comunicações, será o substrato estrutural da economia mundial para os próximos cem anos. Um comboio de alta velocidade a funcionar em 2019 na Indonesia. Portos gigantescos em Djibouti e Gwadar no Pakistão. Centrais eléctricas no Equador, bairros de habitação na Venezuela, fábricas de vidro e cimento na Etiópia. Em Africa, caminhos de ferro, estradas, projectos agro-pecuários, portos.
Uma firma governamental chinesa (a CCCG), já construiu fora do território chinês, 95 portos para navios de grande calado, 10 aeroportos internacionais, 152 pontes, 280 linhas de caminho de ferro.
Em termos de energias alternativas e renováveis a China investiu mais do que qualquer outra nação à face da terra (88 biliões em 2016). A maior rede de energia solar mundial foi completada recentemente. A maior bolsa de valores para negociação de direitos de emissão de CO2 está prestes a entrar em funcionamento.
E assim por diante…

A passividade e mansidão dos conquistados faz lembrar os Aztecas e Incas depois do contacto com os europeus. Sem armas conceptuais ou teóricas que lhes permitam avaliar a situação, o mundo queda-se espantado e passivo face ao terramoto. A utilização dos estafados conceitos deste capitalismo de pacotilha contra os próprios capitalistas, tem sido genial do ponto de vista ideológico. Do ponto de vista político/económico, a utilização da venalidade e ganância da Wall Street em proveito dos movimentos de capitais chineses à volta do mundo tem sido estonteante.
O gigantismo do processo dispensa julgamentos de índole nacionalista e provinciana.
E se calhar será tudo para melhor…
Salve-se-quem-puder !

José Luís Vaz Carneiro
Tucson Julho 10, 2017

* from Ring Around the Sun, Clifford Simak, copyright 1952

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Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário

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Escrito por

Curso em Medicina FML 1975.  Clínica Geral em África, 3 anos. Residência em Medicina EUA, Mount Sinai School of Medicine, Board certified. Hospitalista por 20 anos em hospitais dos EUA, reformado. Professor Agregado de Medicina, ano lectivo 1998 Yale University. Curso de Finanças e Banca Prof Perry Mehrling. Hobbies~Guitarra Clássica, Economia, História, Arte, etc

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Últimos comentários
  • Excelente reflexão, vou comprar o livro.
    Mas a China será de certeza imbatível, programa-se há séculos, e nós no dia a dia (ainda por cima bem mal).
    Nenhum Trump entenderá aquela cultura milenar ….

  • Tenho uma pergunta: por que o resto do mundo está tão impotente perante a conquista económica do mundo pela China? Embora estejam em crise política os EUA e a Europa não deixam de ser detentores de recursos e meios de intervenção importantes.
    Também não sei se a hegemonia chinesa seria mais xenofóbica do que uma outra. Certamente a ideia de uma hegemonia por uma determinada etnia incomoda, mas existe algum exemplo que não é o caso? A questão é como impedir hegemonia num jogo cujo objetivo é a hegemonia, enquanto todos concordam sobre as regras o jogo continuará.
    Uma coisa não se pode dizer da China: falta de visão e projeto de longo prazo. A ironia está em que é exatamente o que causou tanto tormento no país no século passado: uma população gigantesca e a um governo autoritário, que hoje virou a sua força. Enquanto a democracia sofre uma crise mundial, o governo chinês consegue impor planos económicos e ambientais que de outro modo seriam impossíveis em termo de consenso, implementação e escala.
    Quanto ao papel da Índia ser o fomento do mundo multicultural, antes de mais o mundo já é multicultural, a hegemonia é que não. Ao meu ver a contribuição da Índia a este mundo multicultural é a sua existência como um país culturalmente fascinante e a resiliência da sua tradição perante a globalização, mas a sua religiosidade, o seu sistema de castas e a sua misoginia são muitos obstáculos que se opõem a abertura e tolerância.