Bruxas velhas narigudas, encarquilhadas, sisudas, dão terríveis gargalhadas. Riem de quê, estas loucas? Talvez da ignorância, e do medo que os homens têm de tudo o que esconde um segredo, do que os mistérios encerram, por isso eles, vivas as enterram.
Bruxas são magas extravagantes, farrapilhas, malroupidas, montadas nas suas vassouras, saltitantes, voadoras. São génios brilhantes, insubmissos, lançadoras de feitiços, senhoras dos seus aduncos narizes, rainhas do oculto, guerreiras, cientistas, actrizes, julgadas e condenadas por insensíveis juízes.
Bruxas belas malucas despenteadas, desgrenhadas, almas sábias perseguidas, maltratadas, bruxas são mulheres de sempre, destemidas, de ideias ousadas, que os homens perseguem porque as querem mansas nos seus lares de fadas.
Ana Zanatti
Abril, 2021
Nota da autora
Foi a leitura deste poema da M.T.Horta que me trouxe à ideia o meu pequeno texto, Bruxas, escrito já há algum tempo.
Fotos de Manuel Rosário
Outros textos da autora
Os velhos
Rosto envelhecido sulcado pelo vento e sal das ondas, trocámos breves palavras à porta duma tendinha onde ia tomar o mata-bicho. Perguntei-lhe sobre a ilha escarpada, ali em frente, pouso de aves e encosto de embarcações, pobres como ele. Ia para lá pescar toda a noite, com o irmão, tão