De A a Z, tudo se pode fazer DE OUTRA MANEIRA...

A popular government, without popular information, or the means of acquiring it, is but a prologue to a Farce or a Tragedy; or perhaps both.
Knowledge will forever govern ignorance: And a people who mean to be their own governors, must arm themselves with the power which knowledge gives.

James Madison, 1822

Por alturas do 25 de Abril foi publicado um artigo, salvo erro no Nouvel Observateur, sobre desigualdades sociais. Dizia o articulista que para a desigualdade social gerar conflito, tinha que haver uma massa crítica de ricos em contacto próximo com uma massa igualmente crítica de pobres. Quando os ricos são uma pequena minoria, separada material e culturalmente duma maioria de pobretanas, como na altura era Marrocos, não haverá conflito social.

Quando a maioria é remediada ou rica, e os pobres uma minoria, como na altura eram os EUA , não haverá conflito social. Só quando muitos pobres contactam diariamente com um número significativo de ricos, será a revolução uma possibilidade. Os exemplos dados no artigo, eram o Brasil e o Irão. Uns anos depois o autor acertaria em cheio no caso do Irão, mas iria falhar no caso do Brasil.

Hoje em dia nos EUA, está-se a chegar à situação do Brasil e do Irão naquela altura. Demasiada pobreza, e ainda muitos ricos, com um por cento de super ricos lá em cima. A instabilidade social é permanente e já dura desde os anos sessenta. É uma instabilidade Cultural, Ética, Estética, Moral (veja-se o sucesso do negócio privado do sistema prisional). Mas com os meios de comunicação a explicarem ao povo que os problemas estão nas Raças, no Crime, na China, no Absentismo Religioso, ou nos Extraterrestes, e quando uma maioria do povo chama traidor ao Snowden, e faz do filme American Sniper um sucesso de bilheteira, a possibilidade de instabilidade Política é zero. Quem não sabe quem o oprime, o que o oprime, como o oprime, ou porque o oprime, não sabe nada.

E quem não sabe, é como quem não vê…..

E quando finalmente nos EUA, a situação de Marrocos for atingida, a igualdade será reestablecida. Toda a gente igualmente pelintra, sendo os ricos minoritários, e com o seu consumo mirabolante e vidas rocambolescas apenas uma fonte de distracção para gáudio da populaça.

A preocupação com a desigualdade é o novo mantra. Fica bem, é balsâmico, e soa a caritativo. O problema é que, mesmo que se tirasse aos ricos para dar aos pobres equitativamente, a questão da pobreza ficava por resolver, em termos puramente materiais. Os pobres são tantos que pouco melhorariam. E materialmente, um pobre nos EUA ainda vive muito melhor do que um pobre em Calcutá. Mas desaparecido o termo de comparação dos super ricos, pelo menos toda a gente se sentiria menos pobre. Seria mais simpático.

E quando por aqui até já os republicanos citam timidamente os malefícios da desigualdade, e o Pickety nos ensina que isto está a ficar como no século XIX, o mantra está a virar cantata oficial.

Sendo a desigualdade material em si irrelevante, falar sobre ela desvia a atenção sobre as causas da desigualdade, que são o fulcro da questão. São essas mesmas causas que estão a fazer do planeta uma estufa, numa guerra civil permanente a alimentar o complexo militar-industrial, com câmaras de filmar por todo o lado, com denúncias a sacrificar cidadãos heréticos politicamente incorrectos á Santa Comunicação Social, com pobres aos milhões, obesos e tatuados a exigirem entretenimento permanente, com a realidade escamoteada e transformada em milhões de episódios de meio minuto no mundo mediático do youtube, com toda a actividade humana transformada numa mercadoria e comercializada.

Vindas de baixo não esperem mudanças. Elas virão lá de cima ou de fora.

O que seria da vida sem Dinheiro, Comida ou Sexo? O problema é a lei da justa medida. Dum extremo ao outro, vão da carestia à saciedade e da beatitude ao grotesco. O capitalismo actual está na fase do grotesco.

Parafraseando alguém dos anos sessenta:

Deus está morto, Marx também, e eu próprio não me sinto lá muito bem.

desigualdade
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Fotografias de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário

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Escrito por

Curso em Medicina FML 1975.  Clínica Geral em África, 3 anos. Residência em Medicina EUA, Mount Sinai School of Medicine, Board certified. Hospitalista por 20 anos em hospitais dos EUA, reformado. Professor Agregado de Medicina, ano lectivo 1998 Yale University. Curso de Finanças e Banca Prof Perry Mehrling. Hobbies~Guitarra Clássica, Economia, História, Arte, etc

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