A Virbela viveu rodeada de objetos fora de comum.
Sempre a surpreendera que a considerassem corajosa e criativa. Outros, no nosso bairro, achavam-na excêntrica e louca. Muitas vezes ouvi a Virbela dizer: se achasse que tinha que ser corajosa, se calhar nunca o teria feito, e porquê criativa, se o que faço me sai de modo espontâneo?
Mas afinal quem era a Virbela?
Éramos vizinhas e as nossas casas parecia que viviam num mundo diferente do resto do bairro. A minha avó sempre me dissera: não dês ouvidos ao que os outros dizem da Virbela. Ouve-a, sente-a, aprende com ela e a tua vida será mais rica, mais colorida e cheia de lindas e abertas paisagens interiores.
A amizade delas vinha de tão longe que, na minha imaginação de menina, tinha o sabor da eternidade.
Para mim, sair do cinzento da escola, voar na minha bicicleta e entrar no mundo da Virbela era compreender porque estava viva. O que era enfadonho na escola, ali ganhava sentido e clareza. Abrir aquela porta, mergulhar naquelas cores, naquelas formas, nas histórias de outros lugares, fazia com que as minhas emoções se tornassem veículos de pensamentos leves, como os da minha avó.
Foi ali que, sem saber, compreendi que em qualquer lugar poderia criar espaços largos dentro do tempo onde tudo em mim caberia.
Um dia, a Virbela partiu. Uma semana depois da minha avó. Sempre acreditei que estavam combinadas! Mas deixaram em mim tanta largueza de vida, tanto lugar para a diferença.
Anda, entra, sente o que sentires…mas lembra-te que a Virbela era feliz!
Minnie Freudenthal
Dezembro, 2023
Galeria de Fotos
Exposição no MAD (Museaum Art and Design) em NY, 2022
Fotos de Manuel Rosário
Adelino de Almeida | 2023-12-04
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Oxalá cada um de nós pudesse ter uma Virbela.