“Que palavras poderiam acompanhar estas imagens? Como ligar estas mulheres ao mundo, sem as abafar? Fechei os olhos e deixei-me levar por elas ao encontro do que teriam para me oferecer…”
Virbela deitara-se tarde. A janela espelhava a madrugada, enquanto o corpo entreabria imagens de luz suave e ouvia ao longe cantos de pássaros. envolvidos num silêncio remoto.
Estranhou os sons vindos da grande sala.
– Devo estar a sonhar… nem o cão ladrou.
Virbela cobriu a cabeça com o lençol, hoje não tinha que se levantar cedo.
Um estilhaço de pratos fê-la saltar da cama. Enquanto se enrolava no roupão, um estranho sentimento de exaltação percorria os seus sentidos entorpecidos.
Num gesto mecânico ainda olhou o espelho e com os dedos soltou os seus compridos cabelos.
Ao abrir a porta, viu o cão a dormir.
– Que estranho, pensou para si própria.
O corredor parecia-lhe mais longo que o habitual. A luz magnética da manhã atraía os seus passos e os do cão, atrás de si.
Ao mergulhar na luz da sala, como que se uma tela se rasgasse, ali estavam as suas irmãs, à volta da mesa.
– Virbela! Esqueceste o nosso encontro? Anda, vem sentar-te à mesa. Bem sabes como somos ocupadas, não temos tempo a perder.
Como poderia ter esquecido tal coisa, pensava Virbela atordoada, enquanto olhava as suas irmãs. Só mesmo elas tinham cabelos tão lindos como os seus.
Sentou-se, mas fez questão de as saudar uma a uma, soletrando com atenção os nomes das suas peculiares irmãs:
– Olá Bela Justiça, que tanto trabalho tens!
– Olá Bela Amizade, que nunca és demais!
– Olá Bela Guerra, quando te reformas?
– Olá Bela Paz, convida a Guerra para trabalhar contigo!
Em coro, as irmãs responderam:
– E tu, a mais Bela, nunca deixes de trazer beleza à Terra.
Era assim que as belas irmãs se encontravam periodicamente, para repor energia, rirem juntas e esquecerem os seus árduos trabalhos.
À saída, Virbela virou-se antes de partir:
– Sim, eu também sou a Bela Virtude mas com o tempo apenas Virbela!
– Até amanhã…
Minnie Freudenthal
Novembro, 2024
Fotos do pátio interior das Torres de Lisboa, de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário