De A a Z, tudo se pode fazer DE OUTRA MANEIRA...
 

Os fogos da nossa triste mediocridade

Escrevo a 19 de Agosto de 2017.
Este ano, considerando a proporção dos seus territórios, os fogos destruiram em Portugal vinte vezes mais floresta e mato do que em Espanha.
Como esta ameaça às nossas vidas e aos nossos bens não tem origem em causas naturais e é desencadeada e alimentada por interesses humanos, pode ser equiparada a uma guerra! E se é uma guerra, as Forças Armadas não se podem alhear do seu combate e a Justiça tem que julgar e condenar rigorosamente eventuais terroristas, inimigos dos Portugueses.
Tem havido, possivelmente desde há milhares de anos, incêndios florestais provocados intencionalmente, mas deixemos a História para os historiadores e tentemos perceber o que, nos nossos dias, está a acontecer em Portugal.
Quem pode hoje lucrar com incêndios nos matos e florestas?
Numa primeira, intuitiva, acrítica e desordenada lista:
Pastores / Madeireiros / Agricultores descuidados / Donos de aviões e helicópteros / Bombeiros e construtores de equipamento de combate / Empresas que utilizam madeiras como matéria prima / Pessoas com problemas psiquiátricos / Políticos ávidos de negócios / Donos de jornais e televisões, afectados pelo defeso do futebol… / Opositores das Zonas de Intervenção Agrária / Terroristas internacionais encartados / Partidos políticos na oposição / Pessoas mal formadas, invejosas ou vingativas…(se o estimado leitor for capaz, aumente esta lista e ordene-a segundo o seu critério, eu farei o mesmo mas não a irei divulgar “a cause des mouches”…)
Tem sido notória, neste ano de 2017, a incapacidade dos meios de combate para apagar os incêndios florestais, mesmo com um mínimo de eficiência. Porquê?
Na minha opinião:
1 – Devido ao estado caótico dos pinhais e eucaliptais, que têm crescido ao Deus dará, muitas vezes após um primeiro incêndio, por incapacidade económica, ignorância ou ausência dos seus proprietários.
2 – Porque ninguém, cumpre a Lei da Defesa da Floresta, a começar pelo Estado, mas também por culpa da própria lei e/ou por falta da sua divulgação.
3 – Porque há fogos que não são apagados logo nos primeiros minutos após a ignição,
– ou porque os bombeiros e os meios aéreos demoram a chegar, por estarem longe,
– ou porque o incêndio começou de noite e não é detectado atempadamente
4 – Porque a estratégia que parece ter sido adoptada pelos comandos dos bombeiros é a de deixar arder até junto das casas,
– não fazendo contra-fogos, nem eliminando pequenos focos de reacendimento, mesmo que estejam junto a estradas onde há carros de bombeiros, como se vê nas televisões
– e não aproveitando estradões e aceiros existentes porque, vindos de longe, os bombeiros não os conhecem.
5 – Porque parece não haver preparação adequada de alguns bombeiros para o combate a fogos florestais, nomeadamente dos voluntários e das chefias
6 – Porque há terroristas que, em momentos e locais adequados, os reacendem.
7 – Porque tem havido falhas no SIRESP…

Não faz sentido e não tem justificação não ser adequada a alimentação dos bombeiros em combate e depender, muitas vezes, da boa vontade das populações.
Porque tem falhado a distribuição adequada de alimentos aos bombeiros? Diz-se, na comunicação social, que verbas destinadas à alimentação são, por vezes, desviadas para suprir outras necessidades. Para diminuir esse risco, não poderia, pelo menos nos grandes fogos, a alimentação ser feita pelas Forças Armadas, como treino para um cenário de guerra ou outra catástrofe, ou ser assegurada obrigatóriamente pelos municípios?
Porque não se criaram ainda brigadas de intervenção rápida com equipamento adequado a uma primeira intervenção em cada freguesia com floresta, integradas nas Forças Armadas ou na GNR como acontece em Espanha e em França?
Porque não se dá a cada proprietário florestal um resumo das suas obrigações de controle dos resíduos e a cada Junta de Freguesia um mapa do seu território numa escala adequada e a legislação sobre a defesa da floresta e instruções a seguir em caso de incêndio ou outra catástrofe?
Porque há bombeiros florestais amadores, sem terem possibilidade de treino adequado e a operarem quase sempre em terreno desconhecido?

Passaram duas semanas. Estamos já na primeira semana de Setembro.
São Pedro resolveu dar uma ajuda aos bombeiros e mandou chover a cântaros, o que foi um alívio. Entretanto voltou o calor e os avisos do IPMA de elevados riscos de incêndio mas, por milagre, não tem havido muitas “ignições”. Terão os maluquinhos recuperado o juizo, os imprevidentes ganhado boas práticas de trabalho, os terroristas encartados tido mais que fazer noutras paragens, ou, missão cumprida, os mandantes dos incêndiários resolveram não arriscar muito mais na época de fogos deste ano, com receio de serem descobertos?
O artigo de ontem do Público “Justiça investiga ramo português do “Cartel do Fogo” e a notícia de ter sido preso um bombeiro por fogo posto, permite-me ter a esperança de ainda ver explicados alguns mistérios … :
Por exemplo:
1 – o artigo do Público não ter sido referido em nenhum noticiário da TV
2 – o silêncio que tem havido em Portugal sobre essas investigações, iniciadas em Espanha há mais de um ano;
3 – a razão da sanha do BE contra os eucaliptos;
4 – o olho de lince de quem descobriu, em Pedrógão, a árvore onde teria caído o raio da trovoada seca que não existiu;
5 – o vermos constantemente, em pano de fundo nas reportagens das televisões, aviões e
helicópteros a despejar água, em jeito de “salvadores” de situações desesperadas;
6 – a brandura das penas aplicadas aos poucos que são condenados por fogo posto;
7 – a omissão, na comunicação social, dos seus nomes e das circunstâncias em que actuaram;
8 – a percentagem exagerada (97%) de inquéritos a fogos postos arquivados
9 – o absurdo de em Mação (por iniciativa da Câmara) e em Abrantes (pela acção de uma
Associação de Agricultores e da empresa gestora da ZIF de Aldeia do Mato), ter havido gestão da floresta, com estradões, aceiros e pontos de água e tudo ter ardido da mesma maneira que ardeu nos concelhos em que nada tinha sido feito;
10 – a confrangedora comparação das áreas ardidas em Portugal com as ardidas nos outros países do sul da Europa…
Há mais mistérios, mas fiquemo-nos por aqui.
Perante a tragédia do fogo de Pedrógão, é impossível a quem vive na região de Abrantes, não recordar os fogos que, em 2003 e 2005, reduziram a cinzas grande parte do seu território. O fogo de 2003, teve início em condições meteorológicas muito semelhantes às que ocorreram no dia 17 de Junho; o de 2005 não; esse decorreu paulatinamente, e só tomou as proporções de catástrofe pela incrível ineficácia das chefias dos bombeiros, documentada na carta que o então presidente da Junta de Aldeia do Mato escreveu aos membros da Assembleia Municipal de Abrantes.
Reinava então no Governo da Nação o Eng. José Sócrates que, ainda antes da “época dos fogos”, escolhera, com pompa e circunstância, Abrantes para fazer, com o seu proverbial optimismo e à-vontade, a apresentação e elogio do extraordinário Plano de Ataque aos Incêndios, que os seus Serviços, não menos extraordinários, tinham elaborado em tempo record.
Fui directamente atingido pela calamidade, pois, além de três pinhaizitos, umas dezenas de sobreiros e terras de cultivo, nos ardeu uma casa, na Pocariça, herdada pela minha mulher.
Pela televisão vimos o fogo começar num pátio que a casa tinha e propagar-se ao interior, perante a criminosa indiferença dos bombeiros, vindos da região de Lisboa, com um carro na estrada, junto à casa; bombeiros que se recusaram a atacar o incêndio que começara a consumi-la, com a desculpa de que tinham vindo para combater um fogo florestal e não para salvar casas de habitação… Incrível? Uma das testemunhas já faleceu mas ainda há algumas vivas… Também se escusaram a ajudar outro dos habitantes da Pocariça, que lutava desesperado para salvar a sua casa, com a desculpa de que não tinham água no carro, quando a poucos metros havia um depósito com milhares de litros…
Indignado com o espectáculo que presenciámos pela televisão, tentei e consegui entrar em contacto com o reporter que filmara a actuação dos bombeiros. Acedeu prontamente a facultar-me o filme, que me enviaria daí a dois ou tres dias. Passada uma semana, através de um amigo comum, pediu-me compreensão para não poder cumprir o que prometera…
Sem provas do que acontecera embora considerando incrível o comportamento dos “soldados da paz” desisti de qualquer acção condenatória, ainda esperançado numa possível ajuda do Estado, para minimizar os prejuízos.
Poucos dias depois, era informado, por um engenheiro da Zona Agrária de Abrantes, que não seria dada qualquer ajuda para a reconstrução das casas ardidas.
O senhor primeiro-ministro, confrontado com a desastrosa actuação dos meios de combate limitou-se a dizer. “Pois… as coisas não correram bem…”. Nem houve pedidos de desculpa, mas eu fiquei a conhecer melhor o senhor Eng. José Sócrates.
Agora, ao ler no Expresso de dia 8, p.20, o artigo “Quando Costa era alérgico…” de Filipe Santos Costa, tenho que chegar à conclusão de que só o Eng. Sócrates era “optimista”, porque o seu MAI terá desabafado, em contradição absoluta com o discurso anterior e primaveril do seu chefe: “Já se sabia que [2005] ia ser muito mau”… Sabiam? Então porque que é que o primeiro ministro fantasiou toda aquela confiança?

Verdade seja dita que nem o PSD nem o PS terão, desde 2003, encarado a sério a prevenção e o combate aos incêndios florestais, assim e lamentavelmente, não perdeu actualidade o que escrevi, há 12 anos, quando dos fogos na região de Abrantes.

ACUDAM SÃO TERRORISTAS !

A balela posta nos últimos tempos a circular de que os culpados das “ignições” são os proprietários que não limpam os pinhais é resultante de ignorância ou má fé. As árvores não são de combustão espontânea,.só ardem se lhes deitarem fogo. Tenho pequenos pinhais, na região de Abrantes, que têm ardido mais do que uma vez após terem sido desbastados e limpos! O material combustível deixado na floresta só ajuda a rapidez da propagação dos fogos, não os faz deflagrar. E a floresta, não é um salão de baile. Por muito “limpa” que esteja, tem sempre arbustos, moitas, plantas mais do que suficientes para ajudar a propagação do fogo, que se faz normalmente pelas copas das árvores.
Aliás, nestes anos de criminosa impunidade do terrorismo à solta, todos temos assistido, pela televisão, a fogos que queimaram culturas rasteiras, pomares e vinhas longe dos pinhais. Se a limpeza do solo evitasse a propagação dos incêndios, os eucaliptais novos não ardiam. É a maneira como os pinhais, em Portugal, são explorados, que contribui para que os fogos sejam incontroláveis, ao manterem sempre perto umas das outras árvores de diferentes tamanhos e restos de abates, difíceis de retirar. Plantem-se os pinheiros em linhas, cortem-se à rasa quando chegar o seu tempo e estarão criadas as condições necessárias a um controlo mais fácil dos incêndios nos pinhais.
Também os avisos de risco de incêndio parecem ser mais uma sugestão aos incendiários do que uma prevenção às pessoas que vivem no campo. As cautelas têm que ser as mesmas, independentemente da temperatura, da humidade, ou dos ventos. O risco é da velocidade de propagação do fogo ser maior ou menor, não da ocorrência da “ignição”. Publicitar estes avisos é dispensar os incendiários de fazerem “o trabalho de casa”…
Outra medida preventiva, muito preconizada para a defesa das habitações e que consta da legislação em vigor, é a obrigatoriedade de limpar o terreno numa faixa de 50 m à volta das casas ! A área a manter “limpa” é tão grande que, mesmo na melhor das hipóteses (que seria o sujeito morar num moinho pequenino), é maior do que dois campos de futebol ! E há pessoas normais que, distraídas, lamentam que ninguém cumpra tão sábio preceito !
O combate aos incêndios é outro problema que, digam o que disserem os políticos reinantes, tem sido mal resolvido. Ninguém quer que os bombeiros sejam mártires ou heróis. O que andamos a pedir, há mais de 20 anos, é que sejam eficientes. E não têm sido. No fogo de há um mês, aqui na região norte de Abrantes, ardeu na floresta tudo o que havia para arder. Se não houvesse bombeiros, nem meios aéreos, não teria ardido mais ! Foi a população que evitou a destruição de muitas casas e uma tragédia ainda maior.
E no entanto o Senhor Primeiro Ministro José Sócrates, com pompa e circunstância anunciara em Maio, no “arranque da época de incêndios” (?!!!), precisamente aqui em Abrantes:
“Estas cerimónias (…) destinam-se a dar uma mensagem ao país… e essa mensagem é de confiança: que estamos preparados para enfrentar esta época que agora se vai iniciar… o governo tudo fez para se apetrechar e dar uma resposta eficaz a esse problema. Nestes dois meses pretendemos apresentar um dispositivo, uma organização que está à altura de responder aos problemas. Ao Ministro da Administração Interna, Ministro da Agricultura, do Ambiente, Ministro da Defesa, a estes departamentos governamentais que têm uma ligação muito directa aos problemas dos incêndios, quero agradecer o trabalho que realizaram nestes dois meses, de coordenação entre os diferentes departamentos para que o sistema que agora se apresenta aos portugueses possa ser um sistema coerente, com comando que garanta a todos que o dispositivo de ataque aos incêndios, é um dispositivo que é comandado, que tem uma estrutura clara de comando, que tem uma estrutura de resposta que garanta uma resposta eficaz para todos os problemas.“!
Viu-se!

Mas se este foi o soneto, a emenda será bem pior. O Governo já anunciou a compra de aviões e helicópteros para o próximo ano. E, misteriosamente, até o Bloco de Esquerda aplaudiu !
Ora as medidas tomadas e os investimentos absurdos dos governos do PS ou do PSD, nesta e noutras áreas da governação, dão nos o direito de pensar que muitos dos seus membros são, pelo menos, incompetentes e, ao contrário do que os “publicitários de sabonetes” põem na boca dos actuais dirigentes socialistas, não merecem a nossa confiança.
É rematada tolice comprar aviões ou helicópteros sem antes ter dotado um corpo de bombeiros profissionais com meios de combate terrestre, rápidos e eficazes. Até porque as infra-estruturas de apoio aos meios aéreos que combatem os fogos continuam inadequadas. Basta notar que o aeródromo de Tancos, aqui mesmo à beira da que foi a maior mancha florestal do País, continua inoperativo como base de apoio aos meios aéreos pesados.
Acresce que, dado o número de incêndios que na “época dos fogos” destrói o País (uma média assustadora de 400 fogos diários…) o número de aviões e helicópteros, que poderiam formar um “carrossel” eficaz para atacar os fogos mais violentos, é exorbitante. E de noite os meios aéreos não funcionam. E com muito fumo, também não… E a água que despejam é, muitas vezes, um desperdício, para não dizer um atentado ao bom senso ecológico…
Não se vê hoje um contra-fogo como antigamente, quando não havia meios de comunicação tão fáceis, nem deslocações tão rápidas, nem tantos negócios com os incêndios…
Por outro lado, é ponto assente que os fogos nas florestas têm uma propagação exponencial e que dificilmente são extintos se não forem atacados dentro de poucos minutos após o seu início.
Aplaudi, há poucos anos, a criação de uma brigada de primeiro combate aos fogos florestais, aqui na Região de Abrantes. Brigada que durante o Inverno se dedica a trabalhos de limpeza e desbaste na floresta, pagos a preços módicos pelos proprietários. Pensei que seriam criadas outras, apoiadas por uma rede de postos de vigia (ou outros meios mais sofisticados, mas eficientes). Puro engano. A torre de vigia da Medroa, construída pela ARA nos anos 60, continua a ser a única na região e nenhuma outra brigada se criou. E tantos milhões de euros se têm desbaratado, aqui em Abrantes, em obras de fachada !
Só quem conhece bem o terreno onde o fogo lavra, pode combatê-lo com eficácia. Estamos fartos de ver carros de bombeiros, vindos de longe, parecerem baratas tontas sem saberem por onde chegar às chamas ou onde reabastecer.
Só depois, caso a experiência não resultasse, se deveria colocar a hipótese de comprar no estrangeiro ou construir em Portugal (porque não ?) mais aviões ou helicópteros .
Façamos contas, por alto.
2000 freguesias x30 000 € de cada jeep, devidamente equipado, seriam 60 milhões euros. Uma ninharia, amortizável em 4 anos…
2000 jeeps x 5 sapadores por jeep x 14 meses x 600 € de encargos com remunerações, são 84 milhões de contos. Criavam-se 10 000 postos de trabalho e possibilitava-se a conservação da floresta a preços razoáveis para os proprietários, com uma consequente redução dos encargos para o Estado.(1)
Compare-se com os custos de operação e manutenção dos meios aéreos e a sua dificuildade em acudir no início de um fogo florestal.
Todos sabemos que há interesses que guiam as mãos dos incendiários. Que sejam económicos, políticos, religiosos ou de índole pessoal não devia interessar muito. Quem espalha a destruição, a morte e o terror é terrorista. Parece que há medo de chamar os bois pelo nome. Castiguem-se com rapidez os incendiários como terroristas. Divulguem-se as suas carantonhas e nomes. Publicitem-se também os locais dos incêndios originados por descuido. Os incêndios diminuirão para metade. E não me venham dizer que a maioria dos fogos são devidos a descuidos. Todos os incêndios deste ano na zona norte de Abrantes foram de origem criminosa.
Reparem. De repente, acabada a “época dos fogos”, as chamas deixaram de ser notícia, toda a gente ficou cautelosa e os incendiários ou foram gozar uma merecidas férias ou recolheram aos manicómios.
Mas não tenho ilusões. Tudo isto é do conhecimento dos políticos, descendentes dos Faraós, que nos têm governado e há terroristas encobertos a quem não interessa que os fogos acabem.

Tramagal, 2005-09-25 António M. C.de Carvalho

(1) Ajustado, em 2017-07-15, o nr de freguesias e o custo de cada jeep, devidamente equipado para uma intervenção rápida.

Concluindo, pode-se afirmar que:
• A limpeza e o ordenamento da floresta são condições necessárias mas não suficientes para se vencer a batalha dos fogos;
• A rapidez do primeiro ataque, embora pouco evidenciada, é primordial para o êxito do combate ;
Quanto mais fogos houver, mais as corporações dos bombeiros ganham e quanto maiores mais os “canadaires” são precisos;

17 de Setembro 2017.
Já faz hoje 3 meses que aconteceu o pesadelo de Pedrógão.
Esbateu-se o pavor e a indignação que então sentimos, mas temos o dever de não esquecer os que morreram e a dor dos seus familiares e amigos. Temos que nos convencer que esta história dos incêndios na nossa floresta na “epoca dos fogos” é uma guerra a sério, não é uma brincadeira ou um jogo de “play-station”
Retomo as minhas bem intencionadas ideias
1 – A alimentação dos “soldados da paz” deve ser dada a tempo e horas e assegurada honesta e eficazmente pelas Forças Armadas, ou pelos Municípios atingidos pelos fogos.
2 – A intervenção dos bombeiros, para ser eficaz e eficiente tem que ser feita nos primeiros minutos depois da ignição. Isso implica que haja bombeiros, devidamente equipados para uma primeira intervenção, o mais perto possível da floresta a arder e que esteja operativo um sistema de detecção rápido e preciso.
2.1 – A primeira força de combate, com um número reduzido de bombeiros (5 ou 6) deve ter autonomia suficiente para agir imediatamente sob o comando do seu elemento mais graduado.
Se for necessário agregar a essa primeira brigada outras forças de combate esse graduado manter-se-á na equipa do comando, como elemento de “estado maior”.
Deve, para isso, ser criada, em cada freguesia com floresta, pelo menos uma brigada de intervenção rápida com equipamento adequado a uma primeira intervenção (equipamento a construir em Portugal) integrada nas Forças Armadas ou na GNR, como acontece em Espanha e em França.
2.2 – Dada a impossibilidade de submeter os bombeiros voluntários a treino adequado e de os integrar nos trabalhos de limpeza a fazer pelas brigadas no Inverno, estes deixam de ser chamados a combater fogos florestais, mas serão os primeiros a ser convidados pelo Governo a integrar as brigadas profissionais de primeiro combate .
2.3 – Todos os meios de detecção de incêndios, desde as tradicionais torres de vigia a sofisticados sistemas com novas tecnologias, devem ser estudados e adquiridos os que demonstrem maior qualidade.
3 – Os contratos em vigor com empresas de combate aéreo aos fogos florestais devem ser reavaliados e os meios aéreos de combate a incêndios que o Estado tem devem estar preparados para entrar em acção logo que a dimensão dos fogos o justifique.
4 – A legislação a aprovar sobre a defesa da floresta deverá ser realista, objecto de prévio debate público e expurgada de condicionamentos tão exagerados que sejam, (continuem a ser…), um convite ao seu não cumprimento impune.

PS – Escrevi este arrazoado, de boa fé, espicaçado pela opinião de Rui Tavares, expressa no jornal Público, onde se insurgia contra a multidão de “especialistas” que opinavam sobre os fogos florestais. Não sou especialista em fogos, mas há 40 anos que venho sendo vítima de terroristas e de incompetentes e lembrei-me do aforismo: “Todos não somos demais para construir Portugal”. Velharias que os políticos de esquerda não entendem.

António Maria Coelho de Carvalho
Tramagal, Setembro de 2017

Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário

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Escrito por

Nasci “escorpião”, no ano de 1928, em Lisboa, à beira de Alfama, de uma família humilde. Trabalhei como despachante de mensagens, teletipista, controlador de tráfego aéreo, instrutor de pilotos da TAP, empregado numa metalurgia, trabalhador independente. Reformado, tentei, primeiro e sem qualquer sucesso, ser agricultor biológico... e agora faço o possível para ter alguma saúde e não dar trabalhos escusados aos meus 7 filhos e 16 netos. Vou-me distraindo a ouvir música no youtube, a ver televisão, a escrever para um jornalito regional, a cantar no Coro da Sociedade Artística Tramagalense e a comprar livros que nunca chegarei a ler... Não temo a morte, mas gostaria de viver mais uns tempitos, conhecer bisnetos e pensar que Portugal entrará finalmente no bom caminho.

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