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O Desaparecimento dos Insectos

Talvez influenciado pelas notícias sobre aquecimento global, desastres ecológicos, desaparição de espécies, tenho a tendência de sobrevalorizar o que testemunho aqui, no Arizona em 2020. Mas isto é o que tenho visto:
Quando aqui cheguei há vinte e dois anos, a fauna no deserto de Sonora era esfuziante.
Havia veados de manhãzinha, quando ia para o meu exercício diário, e via javelinas, que são pecaris parecidos com javalis pequenos, todos os dias ao fim da tarde. Diariamente via coiotes, a quem devo a desaparição do meu gato Teodoro. Coelhos “aos pontapés”, ocasionalmente gatos selvagens (bobcats).
Passarada a não acabar, à volta do paínço que eu costumava deixar no meu pátio. Havia codornizes (quails), road runners (os dos desenhos animados) cardinais e aves cantantes.
E lá no alto aves de rapina (falcões, abutres, corujas).
No solo tarântulas, escorpiões, insectos rastejantes, cascavéis e lagartos obrigavam-me a olhar para o chão quando caminhava, nas noites de verão…
E quando tinha visitas em minha casa, íamos sempre dar uma volta pelo deserto, para ver a bicharada.

Pois bem, agora não há nada! O silêncio lá fora é sepulcral. Desapareceram TODOS os animais. Seria de esperar que algumas espécies medrassem, sem a competição dos desaparecidos. Mas não, a ausência é uniforme. Aqui e ali um coelho, um pássaro ocasional. Lúgubre!
A coisa começou pelos insectos (deixei de limpar o para-brisas do carro há muito tempo). A seguir desapareceram os pássaros e os répteis. Nos últimos anos deixei de ver coelhos, veados, javelinas…

Não sabendo nada de ecossistemas, fico aterrorizado com as leituras da internet. Cadeias alimentares destruídas, equilíbrios tornados instáveis. Se isto não tiver recuperação, o fim está próximo. Colapso da agricultura sem insectos polinizadores, colapso dos animais que vivem dos insectos, enfim uma catástrofe.
Ou talvez não, quem sabe (bato na madeira). Talvez isto seja apenas um pesadelo meu, uma obsessão de estimação.
Na internet aprendi sobre o colapso dos insectos na Alemanha e por toda a Europa. Aparentemente até nos países tropicais isto acontece.
A ser verdade, os efeitos começarão a sentir-se no terceiro mundo. Colapso das colheitas, fome, instabilidade social generalizada, e o Trump por mais 4 anos no poder.
Enfim, falemos de coisas mais alegres.

Quando o Manuel Ribeiro do Rosário me visitou aqui há anos, participou comigo no atirar de comida a uma meia dúzia de javelinas, nas traseiras de minha casa. Quando nos fartámos da brincadeira o Manel, sabendo que eu vivia sozinho, disse-me com ar sério: Olha, quando sentires a necessidade de as convidar a entrar, telefona-me!

José Luís Vaz Carneiro
Tucson, Fevereiro, 2020
solipso52@aol.com

Fotos de Manuel Rosário, tiradas na Abadia de Admont na Áustria.

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Escrito por

Curso em Medicina FML 1975.  Clínica Geral em África, 3 anos. Residência em Medicina EUA, Mount Sinai School of Medicine, Board certified. Hospitalista por 20 anos em hospitais dos EUA, reformado. Professor Agregado de Medicina, ano lectivo 1998 Yale University. Curso de Finanças e Banca Prof Perry Mehrling. Hobbies~Guitarra Clássica, Economia, História, Arte, etc

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