O National Palace Museum em Taipei, Taiwan, é um museu fascinante tanto pela riqueza do seu património, como pela história rocambolesca da sua coleção.
Em 2019, passámos um dia inteiro a visitá-lo. Foi entrar de manhã à hora de abertura e sair quando as portas fecharam (felizmente tem um ótimo restaurante onde comemos muito bem).
A história da coleção deste museu começa em 1912, com a expulsão da Cidade Proibida (o gigantesco palácio imperial em Pequim) de Puyi, o último imperador da China.
Sun Yat-sen, presidente da então jovem república chinesa, compreende imediatamente a importância da enorme coleção de arte da antiga família imperial e funda o Palace Museum de Pequim que, rapidamente, adquire fama mundial.
Em 1931, após a invasão da Manchúria pelos japoneses e posteriormente da China em 1937, o então presidente chinês, Chiang Kai-shek, resolve salvaguardar toda a coleção mais a sul, inicialmente em Shangai e depois, em Nanjjng.
Mas o avanço dos japoneses é implacável e pouco antes da queda de Nanjing, a coleção acaba por ser levada para Emei, mais a oeste, na província de Szechuan.
Apesar do país estar então num estado de caos total (milhões de refugiados sem rumo pelas estradas, bombardeamentos constantes pela força aérea japonesa e fome generalizada) o transporte dos 20.000 caixotes ao longo de 75.000 kms foi feito por três rotas diferentes em camiões, comboios, barcos e por vezes carroças. Foi um autêntico milagre de logística que permitiu, à coleção, ter sobrevivido intacta.
A aliança entre os Nacionalistas de Chiang Kai-shek e os Comunistas de Mao Tse Tung permite à China, praticamente sem apoio de outros países, fazer frente ao poderoso exército japonês, durante 4 anos, até a América, finalmente, entrar na guerra, após o ataque a Pearl Harbour, em Dezembro de 1941.
Até ao fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, a China prestou um auxílio fundamental no combate aos japoneses, forçando-os a manter imensas tropas espalhadas por toda a China e a enfrentar uma guerra de guerrilha que nunca foram capazes de controlar. Apesar dos 14 milhões de mortos e da destruição quase total do país, o importante papel desempenhado pela China, na Segunda Guerra Mundial, acabou por nunca ser plenamente reconhecido pelos outros aliados.
Com o fim da Guerra, a aliança entre os Nacionalistas de Chiang Kai-shek e os Comunistas de Mao Tse Tung desfaz-se rapidamente, começando então, uma guerra civil que só termina com a derrota e fuga de Chiang Kai-shek para Taiwan, em Dezembro de 1949.
A coleção do National Palace Museum de Taipei é uma seleção de cerca de 20% das melhores peças do acervo do Palace Museum de Pequim (cerca de 700.000) transportadas para Taiwan entre 1948-1949 por iniciativa de Chiang Kai-shek.
As obras, inicialmente armazenadas numa fábrica de açúcar em Taichung, foram depois mudadas por questões de segurança para Beigou, uma aldeia remota onde ficaram dez anos.
Em 1956 construiu-se um pequeno museu, mas foi preciso esperar até Agosto de 1965 para que o atual gigantesco edifício ficasse pronto. Finalmente, havia um local condigno para armazenar as magníficas peças que tanto tinham viajado…
Das centenas de pinturas e objetos que vimos, durante a nossa visita, aqui ficam detalhes dos magníficos bronzes e cerâmicas expostos naquele dia inesquecível.
Manuel Rosário
Fevereiro, 2022
Galeria de Imagens
Fotos de Manuel Rosário e Minnie Freudenthal
António José Barros Veloso | 2022-02-13
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Esta colecção fantástica está atravessada na garganta dos liederes da China Continental que têm feito todos os esforços para a reaver e explica a relativa pobreza dos museus chineses. Magnífica a reportagem do Manuel Rosário que não pára de nos espantar. Parabéns!
Jose Vaz Carneiro | 2022-02-14
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Faz-me lembrar uma exposição de arte chinesa em Nova Yorque, também extraordinária, que visitei com o Manel há vinte e tal anos.
Tenho pena de não saber os aspectos técnicos de cada obra, como a “marqueterie” de Jade em Bronze, Porcelanas Policromas, etc
Suspeito uma tecnologia e know how fabulosas