Ainda o Natal está longe e já se sente um frenesim de antecipação. Lentamente aproximamo-nos de uma onda de colisão social, os carros adensam-se nas estradas, as lojas ainda vazias, ansiosas por equilibrar as contas deficitárias do ano, olham através da montra os clientes que irão chegar, os restaurantes antecipam dias a transbordar, para finalmente poderem dizer: estamos cheios. Os Bancos, notando as pessoas nas ruas a passear sem sacos de compras, espiam a sociedade de consumo, e perguntam-se, gastarão? Não gastarão?
Aos poucos, o ritmo do galope acelera, imperceptivelmente sente-se no ar mais tensão, na estrada mais irritação, mais pressa para o momento de colisão. A cidade acende-se, vibra, chama e entope as suas artérias. Nas janelas o brilho das luzes suspende a nossa imaginação, serão felizes? Chegaremos todos lá? Onde estiveram o resto do ano?
Nesta corrida, uns têm que trabalhar, têm que manter os serviços para que os demais escorreguem para o encontro, o reboliço, as gargalhadas, os choros, a barriga cheia, as guloseimas, o papel de embrulho no chão, as crianças, sabe-se lá com que expectativas.
Os bombeiros, os médicos, os seguranças, esses que têm de trabalhar, aquecem um canto com uma luz, para que quem passe se lembre que neles também há desejo de Natal.
Minnie Freudenthal
(escrito em Dezembro de 2013 e publicado, aqui, em 2017)
Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário
Manuela Carona | 2022-12-19
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Oh, é mesmo como escreve. E aquela pressa, aquela irritante.Nao vejo onde posso pôr o like…
De Outra Maneira | 2022-12-23
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Aqui, o like tem que ser escrito….Boas Festas, Manuela!