De A a Z, tudo se pode fazer DE OUTRA MANEIRA...

Tudo começou numa tarde chuvosa de Verão em Nova Iorque.  Tinha ido ver um concerto da Flora Purim e quando saí do metro, em Spring Street, chovia torrencialmente.  Vi uma rapariga carregada com uma enorme câmara de filmar de 16mm, parada à porta da estação, perguntei-lhe se queria boleia no meu guarda chuva e ofereci-me para a ajudar a transportar a pesada máquina.  Descobri então que falava francês e se chamava Eliane. Convidei-a para tomar um expresso no Café Borgia, o único local onde então, se servia um café decente no Soho.  Contou-me que estava em Nova Iorque a fazer um curso de cinema, juntamente com o namorado, Andrés. Era muito simpática e divertida, o que me levou logo a convidar os dois para jantar lá em casa.  Naquela altura vivia com a Vanda, a Leonor e o Tito num enorme loft na Broome Street e tínhamos o hábito de convidar muita gente para jantar, assim, de improviso.

A longo dos anos a Eliane tornou-se uma grande amiga e grande fonte de descobertas literárias.  Foi ela que me apresentou aos “ethno polars”, romances policiais que para além de conterem as habituais tramas mais ou menos detectivescas, nos transportam para universos mágicos extraordinários, muito diferentes dos habituais. Embora em França este género literário esteja já consagrado, noutros países tem sido considerado um género menor.

O meu gosto pela literatura de viagens, levou-me, ao longo destes anos, a ler dezenas e dezenas de livros oferecidos pela Eliane.

Deixo aqui três dos meus autores favoritos:

Arthur Upfield

Nasceu em Inglaterra em 1890. Após ter fracassado nos exames para se tornar agente imobiliário, o pai mandou-o para a Austrália.  Durante a Primeira Guerra Mundial, fez parte das forças australianas, tendo lutado  em Gallipoli e em França.  Durante os 20 anos que se seguiram, viajou pelo “outback” australiano em trabalho de exploração geológica.  É dessas viagens que nasce o personagem do inspetor Napoleon Bonaparte (Bony) inspirado num “tracker” real, aborígene mestiço.  Para quem gosta da Austrália como eu, os romances de Upfield são absolutamente mágicos transportando-nos de imediato para os enormes espaços do “outback”.

Tony Hillerman

Nasceu em 1925 no Oklahoma.  A sua infância foi passada num ambiente rural e viveu toda a vida no Southwest.  Serviu como operador de morteiros durante a Segunda Guerra Mundial, tendo-se posteriormente formado em jornalismo. Foi um escritor prolifico, com uma enorme popularidade nos USA.  Os seus personagens Joe Leaphorn e Jim Chee da Navajo Tribal Police transportam-nos para região dos Four Corners e fazem-nos mergulhar na cultura navajo.

Paco Ignacio Taibo II

Nasceu em Guijón em 1949 mas vive no México desde os 9 anos. É professor universitário, historiador e ativista de esquerda.  O seu personagem, detetive Hectór Belascóaran Shayne é inesquecível e o retrato que faz do caos urbano da Cidade do México é magnifico e cheio de humor.

Escreveu inúmeros livros de história, além de uma biografia de Che Guevara e o fantástico “A quatro manos”.

Manuel Rosário
Dezembro, 2021

 

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Arthur Upfield , Tony Hillerman , Paco Ignacio Taibo II ,  Babelio /  Ethno-polars,  Sens critique/  Ethno-polars,  Limédia Mosaïque /  Ethno-polars

Li estes livros em edições francesas da Rivages/Noir, 10 18, Métailié, Folio, Rivages/Thriller

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Fotos de Manuel Rosário

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Escrito por

Médico Gastroenterologista, nasceu em Lisboa em 1951. Fez o curso de Medicina na Faculdade de Medicina de Lourenço Marques e Faculdade de Medicina de Lisboa. Fez a especialidade no Harlem Hospital em Nova Iorque. Vive em Lisboa desde 1986.

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