Da Filosofia à Educação, abrindo uma janela à Neurociência
Quando na Filosofia se abriu a janela à Neurociência, deixaram-se ideias espartilhadas por conceitos ultrapassados acerca do cérebro ganhar asas. Foi assim que vimos o conflito tradicional entre mente e coração, razão e emoção rasgar-se.
Num abraço assistimos, finalmente, ao encontro entre as emoções e o conhecimento, entre a intuição moral e o julgamento moral.
Recentemente, na palestra de “Ian McGilchrist: The divided brain”, a visualização anatómica da evolução do nosso cérebro mostrava o crescimento, ao longo do tempo, de ambos os hemisférios com uma diminuição significativa do tamanho da estrutura que os “une” ou “separa”, o chamado corpo caloso. Ocorreu-me que este design poderia traduzir uma importância cada vez maior das nossas capacidades holísticas ou, por outras palavras, a capacidade de olharmos a realidade nos seus aspectos mais globais sem a presença omnipotente do filtro da razão.
O que estamos a aprender sobre o nosso cérebro tem e deve reverter a favor do ensino. Ora nós, isto é, a geração que agora serve de córtex pré-frontal aos mais jovens, é filha duma interpretação pré-moderna , pré-Neurociência, pré fusão da filosofia com a ciência. Mas somos nós que temos que repensar a ideia de “escola” para que as novas crianças e os novos jovens cresçam num ambiente onde o eu emocional de cada um, seja reconhecido como fundamental no funcionamento da razão.
A nossa educação tem falhado onde mais necessária é: na harmonização do cérebro do jovem. Hoje é-nos mais claro que o cérebro jovem procura excitação, novidade e pondera sobre o risco de modo totalmente diferente do adulto. Para o jovem, a possibilidade de recompensa é mais forte do que os possíveis riscos. O córtex pré-frontal do jovem, em processo de reorganização, sofre um desequilíbrio em favor das emoções.
É com esta realidade que deveríamos entrar em conta quando pretendemos que os jovens do século XXI, hiperestimulados visualmente, cada vez mais familiarmente desancorados, com acesso a drogas que hipervalorizam o que neles já é natural, um estado não focado, se sentem numa sala de aula, com professores aos quais ainda não lhes foram oferecidas as ferramentas adequadas para lidar com as necessidades desta geração.
É preciso uma enorme dose de sabedoria e vontade de aprender para atravessar esta ponte entre Nós e os futuros Nós. Para lá do conhecimento profundo da matéria que se ensina é da compaixão, do altruísmo e da empatia que mais precisamos para estender a mão aos nossos Jovens.
E depois?… E depois a escola um dia vai mudar. Um dia a escola não vai ter “paredes”, vai ser De Outra Maneira. Depois da escrita e leitura aprendidas, da matemática básica incorporada, a escola pode fundir-se mais com a vida e com a sociedade, facilitando o ensino da sabedoria, já que o conhecimento, esse, está ao nosso dispor com um clique do ipad.
Minnie Freudenthal
Novembro, 2011
Ver mais
Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário