Come in, come in… o braço estendido e o sorriso rasgado tornaram impossível recusar o convite.
Tínhamos sido deixados na periferia dum bairro de Guiumri, no norte da Arménia. Anteriormente chamada Leninakan, a cidade tinha sido abalada por um forte terramoto em Dezembro de 1988. Não me recordo da razão pela qual tínhamos escolhido aquele bairro para deambular.
Sentíamo-nos satisfeitos. O almoço tinha sido inesperado e delicioso. O restaurante estava encaixado numa pequena garganta verdejante e fresca, onde os cozinheiros iam buscar o peixe diretamente a tanques de água corrente. As mesas espalhavam-se pela encosta e sentados, debaixo dum telheiro, podíamos gozar a frescura daquele local. O guia, que nos acompanhara, já nos tinha deixado.
Descontraídos, fomos entrando pelo bairro de muros altos, ruas asfaltadas da largura de um só carro e grandes casas com pátios e janelas. Reparámos então, nos curiosos algerozes e noutros arrebiques em latão que enfeitavam casas e portões. E assim fomos deambulando e fotografando… Só a Mónica se apercebeu de algumas cabeças que, discretamente, iam espreitando pelas frinchas dos portões.
Ao adiantar-me um pouco em relação ao grupo, um portão abriu-se e fui interpelada por uma simpática família.
Come in…come in…!
Acenei aos outros para que soubessem por onde ia. Fui levada através de um jardim com árvores de fruta, passei por uma latoaria e entrei numa sala, onde outros elementos da família me esperavam. Enquanto me dedicava ativamente ao reconhecimento daquele lugar, os meus olhos pousaram na TV. Uma onda de perplexidade faiscou no meu corpo quando, naquele ecrã, vi os meus amigos na rua.
Não admirava que nos tivessem vindo espreitar. Pelas câmaras de vigilância tinham observado um grupo com 3 máquinas fotográficas apontadas para tudo o que era latão. Como não parecíamos ameaçadores, acabámos a comer doces e à despedida, de barriga cheia, visitámos a latoaria da família.
A partir desse momento as caras, que dos pátios e janelas tinham espreitado o nosso passeio pelo bairro, acenavam e sorriam.
Minnie Freudenthal
Janeiro, 2022
Fotos de Manuel Rosário, Minnie Freudenthal e Monica Chan