E se eu tivesse nascido no mundo Blade Runner? Teria eu aquele corpo capaz de rasgar o espaço em flip flops?
Ou numa tribo duma floresta longínqua onde a sabedoria do ambiente seria a minha sobrevivência?
E de que trapos faria eu o meu vestido na corte de Catarina a Grande?
Teria eu tido a audácia e a inteligência da Papisa Joana ou a determinação focada de Madame Curie?
E se tivesse nascido na pele de Aspasia, amante de Péricles, teria eu aberto a minha casa a Sócrates e a outros intelectuais em Atenas?
Por vezes sinto Liszt percorrer o meu corpo, sentado no banco de Maria João Pires ou até o pensar abrangente à secretária de Marguerite Yourcenar.
Terei eu sido mãe? Escritora? Amante? Guerreira, prostituta ou cortesã? Teria eu tido a sabedoria de me apagar para sobreviver? Ou matar? Ou vender o corpo?
Percorrem-me todas elas, mas só algumas subiram ao palco, o palco da contemporaneidade. Mas em mim sinto a memória de todas elas.
Minnie Freudenthal
Novembro, 2019
Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário, tiradas em Williamsburg/Bushwick, uma zona de graffitis em Nova Iorque
Jose v Carneiro | 2019-11-03
|
Ora Minnie tu és e sempre foste o que todos e cada um de nós somos: O Resultado das Nossas Circunstâncias.
As personagens femininas de que falas foram outras circunstâncias, tão simples como isso. Só a sorte ou o azar mudam as circunstâncias. O livre arbítrio é um Mito
MANUELA CARONA | 2019-11-03
|
Estou consigo em «em mim sinto a memória de todas elas». Faço minhas as suas palavras…bs
Isabel Almasqué | 2019-11-04
|
A frase mais famosa do filósofo espanhol Ortega y Gasset – ” O Homem é o Homem e as suas circunstâncias” – traduz isso mesmo. Se isolarmos o ser humano das circunstâncias que o rodeiam, ficamos com um conjunto de genes incompreensível e sem sentido. Como diz o Zé Luis, o resto depende da sorte e do azar relacionados com as circunstâncias que nos calharam na lotaria da vida. Por isso, o mais importante é ter bons genes e…sorte.