O pior é quando na escuridão do sono interrompido um mapa cerebral exaltado, pela preocupação vigilante de encontrar uma solução, se põe a disparar como uma bola de bilhar em eterno movimento.
Pára! Quero dormir!
Se ao menos fosse possível desligar o mapa como um file: pimba, com o dedo-click-já está! Arrumado, encerrado, adormecido até ser de novo hora de o olhar, de o ouvir, de o sentir inundado com o que lhe falta para que se integre, se dilua na arquitectura absorvente do cérebro.
Não é vital, não é vital, grito na escuridão ao cérebro inquieto. Espera, que adianta lembrares-me agora? No meio do sono, o que te deu?
A vida não é linear, não sabes que depois de insert change tens que esperar? Sim, esperar! Não sabes que há um delay no sistema?
Mas quem quer esperar? O que se quer é medir o resultado, amanhã ou depois mas sempre depressa demais. E se não se pode medir, não funciona? Muda, muda outra vez, faz outra intervenção…
Não! Respira…respira…10-9-8, mas o mapa acende outra vez como um bairro de uma cidade que não quer ficar às escuras, respira…7-6-5 relaxa, respira 4-3-2 e finalmente 1.
Subitamente sinto nos pés a duna que se estende até ao azul do mar, respira…a praia invade o espaço do meu sonho, respira…sinto o pulsar do mapa abrandar, respira…ao longe a Serra da Arrábida abraça o horizonte familiar.
Como me sinto bem de novo a deslizar no sono interrompido, e num último esgar de lucidez decido: dá tempo, dá tempo, tudo há-de mudar!
Minnie Freudenthal
Novembro, 2012
Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário
Yvette Centeno | 2023-08-14
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Querida Minnie, parece escrito para mim, com o teu estilo tá directo e elegante. Estou de mapa ao pescoço, não conto, mas paciento!
Perrin | 2023-08-27
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La bannière et le texte sont très beaux ! Merci Minnie et Manuel. Eliane