De A a Z, tudo se pode fazer DE OUTRA MANEIRA...
 

Poema do Bom Pão

Terei tempo de dizer

não o que foi

mas o que é

e que eu ainda queria?

Um tempo tão controverso

em situação tão adversa

a tudo o que possa pensar

perder tempo a desejar

sei que é um tempo perdido

e quem deseja perder

o que já não faz sentido?

Desejar é um castigo

falemos então verdade

passou esse tempo antigo

a nossa porta fechou-se

o tempo é nosso inimigo

está lá por trás escondido

com a sua foice fatal

que por enquanto não vemos

numa cegueira adiada

mas terá o seu momento

outrora não era esse

o tempo que nos cabia

podíamos sonhar um outro

novo ano novo dia

campo dourado de trigo

pão da vida sorridente

mas será que sobra tempo

e direi o que queria?

Que o trigo já foi ceifado

e o bom pão já foi comido…

 

Yvette Centeno
Janeiro, 2022

Foto de Manuel Rosário

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Escrito por

Nasceu em Lisboa, é casada, tem quatro filhos. Cresceu numa casa onde havia livros. Leu sempre, leu muito, de todas as maneiras. Doutorou-se em Literatura Alemã, mas interessou-se sempre por História das Ideias, História de Arte e Literatura Comparada. É Professora Catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde criou os primeiros cursos de Tradução Literária. Tem obra de ficção, poesia, teatro e ensaio publicada em várias línguas. Quanto à música, as preferências andam pelo jazz, Mozart e Wagner… Foi recentemente distinguida com a Medalha de Honra do Autor Cooperante pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).

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Últimos Comentários
  • Querida Yvette, Tenho andado arredia e, hélas, arredada desta comunidade saborosa de ideias e partilhas, pelo que só hoje li este seu poema: belíssimo e límpido, certeiro sempre! Beijo grato da Helena