A hipótese de Gaia, de Lynn Margoulis e James Lovelock, postula ser a Terra um organismo gigante, autorregulado, com tudo ligado a tudo, em circuitos de feed back contínuos. Uma homeostasia.
Toda a biosfera faz parte de Gaia. E Gaia está doente.
Desde O Desaparecimento dos Insectos, publicado aqui no De Outra Maneira em 2020, a coisa está muito pior, abrangendo o mundo inteiro. Acabei de ler um livro deprimente escrito por um especialista. Espero veementemente que ele esteja enganado.
A poluição química parece ser a causa maior, mais importante que o aquecimento global, e a sintetização de novos químicos vai de vento em popa (pesticidas, drogas, retardantes da combustão em têxteis, frigideiras não aderentes, tintas, herbicidas, fungicidas, etc). São aplicados levianamente, com pouca consideração pelos efeitos possíveis no meio ambiente. Neonicotinóides, glifosato (roundup), cancerígenos e tóxicos continuam a ser produzidos. E quando proibidos nos países ricos, continuam ilibados nos países pobres.
Alguns são eternos (PFAs). Na Fossa das Marianas, a milhares de metros abaixo da superfície, a fauna local contém PCBs e PBDEs (ver no Google), junto com plásticos e outro lixo.
Pesticidas e adubos fertilizantes são aplicados indiscriminadamente, envenenando os solos por dezenas de anos.
Geoengenharia, radiação eletromagnética (5G), são outras formas de poluição.
As borboletas Monarcas perderam 97% da população. Morcegos são raros. Corais estão a morrer. Ouriços-Cacheiros sumiram. As alterações das cadeias alimentares, levam ao desaparecimento de batráquios, répteis, peixes, mamíferos, aves. Entre 1970 e 2014 a população de vertebrados não domesticados no planeta desceu 60%. Na Europa o decréscimo dos insectos foi de 75% em trinta anos. Em termos de espécies 41% desapareceram, presumivelmente extintas.
Mas os mosquitos medram e o paludismo aparece em climas temperados.
Oitenta e sete por cento de todas as espécies de plantas exigem polinização animal, a maioria por insectos. As mais atingidas são as amêndoas, tomates, amoras, café, cacau.
E o aquecimento global destrói equilíbrios ecológicos mais rapidamente do que a adaptação da biosfera às perturbações climáticas.
Criadores de gado são responsáveis por 80% da destruição da Amazónia. Carne de bovino constitui apenas 2% das calorias consumidas pela população, mas 60% da terra arável no mundo é usada para a indústria na produção de carne. Por cada mil calorias de carne de vaca são usadas dez mil calorias de ração de origem vegetal.
Para a consciencialização e educação do público, nada melhor do que expor as crianças pequenas às maravilhas da natureza. No entanto o Oxford Junior Dictionary dedicado às crianças, omite dezenas de termos relacionados com mundo natural, como musgo, fetos, lontras, etc. Termos julgados fora do âmbito duma introdução das crianças ao mundo natural!
Quanto aos políticos, apenas 26 dos 650 membros do Parlamento do Reino Unido têm alguma formação científica (Engenharia, Tecnologia, Medicina). Nenhum tem diplomas em Biologia, Ecologia ou Ciências do Ambiente.
E nos EUA. o Trump, que nega o aquecimento global, vai ser presidente.
O filme, Wall-E da Pixar. é premonitório.
De resto, o livro é uma introdução fascinante aos ecossistemas de que os insectos fazem parte.
Para mitigar os efeitos de tudo isto, o autor preconiza várias soluções a serem tomadas por governos e cidadãos. Todas soam deprimentemente cosméticas e insuficientes.
É intrigante que o autor não se refira à condição básica e fundamental sem a qual nada é possível: A Cooperação dos Governos de todo o Mundo na solução deste drama.
Mas enfim, não há livros perfeitos.
José Luís Vaz Carneiro
Tucson, Abril 2024
solipso52@aol.com
Ref. Silent Hearth by Dave Goulson, HarperCollins 2021
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Fotos de Manuel Rosário
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O Desaparecimento dos Insectos
Talvez influenciado pelas notícias sobre aquecimento global, desastres ecológicos, desaparição de espécies, tenho a tendência de sobrevalorizar o que testemunho aqui, no Arizona em 2020. Mas isto é o que tenho visto: Quando aqui cheguei há vinte e dois anos, a fauna no deserto de Sonora era esfuziante. Havia veados de manhãzinha,
Eliane Perrin | 2024-04-10
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Merci pour cet excellent article au sujet d’un livre essentiel et magnifique. Merci aussi pour les photos somptueuses de Manuel Rosario qui défilent trop vite… J’aurais voulu pouvoir m’arrêter sur chacune d’entre elles !