De A a Z, tudo se pode fazer DE OUTRA MANEIRA...
 

Crime contra a Humanidade

Talvez um dia, ao auscultar o ventre das mães antes de parirem, quantos não dirão, é melhor não nascer!
Desde o início dos fenómenos biológicos na Terra, a preservação da vida foi sempre um propósito básico e o vetor principal da evolução. Tornou-se num valor em si mesmo, capaz de ser identificado por todos os seres vivos, desde os organismos celulares mais básicos até ao Homo Sapiens. Em nome desse valor, desenvolveram-se mecanismos cada vez mais sofisticados de deteção de ameaças e intercomunicação das mesmas.
Durante a lenta evolução que nos permitiu chegar aos nossos dias, as emoções de ameaça transformaram-se e expandiram-se. Estas emoções tornaram-se mais complexas para acompanhar as necessidades duma nova espécie social, capaz de conceptualizar e de contar histórias. E assim, a luta ou a fuga transformaram-se em ansiedade existencial, desprezo, vergonha e até depressão. No caminho, desenvolvemos a submissão, a antecipação, a vingança.
Trazemos na memória da espécie as estratégias que nos ajudaram a sobreviver em contextos de escassez. Hoje, ainda sofremos da compulsão para competir, conquistar e acumular.
O conhecimento científico, o desenvolvimento tecnológico e a sofisticação legislativa já oferecem a toda a Humanidade a possibilidade de viver em paz, não ter fome e conter muitas epidemias. Se existem guerras, epidemias e fome é porque muitos de nós ainda vivemos controlados por impulsos, ancorados em sentimentos primitivos de ameaça, que sustentam sistemas Políticos e económicos que estão a levar à destruição do próprio conceito de Humanidade e do bem-estar do Planeta.
O Homo Sapiens tem algo de maravilhoso que nos pode ajudar a reorientar o objeto daquelas compulsões. Na nossa espécie as “Ideias” tornaram-se um vetor de sobrevivência e evolução. É no reino das ideias que devemos competir, conquistar e acumular aquelas que melhor se adequem ao bem-estar de todos. A competição não é entre nós, Humanos; é entre as ideias que nos percorrem e pertencem à Humanidade.
No nosso melhor, funcionamos a partir da compaixão e da confiança. Por isso, é necessário que a todos os níveis da sociedade, das escolas às empresas, às famílias e aos Governos, se invista no desenvolvimento do sentimento social mais complexo que temos à nossa disposição: a compaixão.
Todas as empresas e locais de trabalho deveriam ter um núcleo ligado ao trabalho voluntário, na perspectiva do fortalecimento dum tecido social movido por uma ecologia de troca e compaixão. Este novo tecido social ganharia força política para se opor ao que hoje todos presenciamos: um crime contra a Humanidade! Todos nos sentimos ameaçados perante o desrespeito pelas condições básicas de desenvolvimento de seres humanos. Sentimo-nos impotentes ao presenciar crianças a serem separadas das suas mães.
Mas a verdade é que, hoje, conhecemos um conjunto mínimo de condições necessárias para que uma criança se transforme num adulto saudável.
Parece-me que haveria muitas barrigas que, se auscultadas, emitiriam sons de apreensão acerca do ambiente para nascer e crescer. Temos todas as condições para evitar que o mundo continue tão desigual e ameaçador para os que nascem.
Para isso, todos temos que ser agentes ativos e presentes num sistema que funcione como uma enorme rede de consciência, um hiper palco de conexão, que obrigue o sistema político e financeiro a ultrapassar a mentalidade de escassez, competição, conquista e acumulação.
Numa ecologia de troca e de compaixão, a Humanidade entrará num novo patamar de evolução. E aí sim, as barrigas vão emitir sons de satisfação!

Minnie Freudenthal
Junho 2018

Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário

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Escrito por

Alice Minnie Freudenthal, médica Internista pelo American Board of Internal Medicine e Ordem dos Médicos Portuguesa. Áreas de interesse; neurociência, nutrição, hábitos e treino da mente. Curso de Hipnose clínica pela London School of Clinical Hypnosis. Curso de Mindfulness Based Stress Reduction. Palestras e Workshops de diferentes temas na área da neurociência para instituições académicas, empresas e grupos.

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