Conto até três e perco-me. Parece difícil aceitar. Vejo-te a descer a estrada de bicicleta com os braços abertos ao mundo. Vejo-te a correr, confiante, num campo de futebol repleto de um público ruidoso. Vejo-te a dançar com um copo na mão, dona de ti, naquele bar que já nem sequer existe. E agora apenas te ilustro na minha mente. Neste teu primeiro aniversário longe de mim, mantenho o brilho da tua presença perto do meu coração. Continuas a crescer, ao meu lado, num caminho caracterizado pela distância. Por esse motivo, quero que voes. Permite que este dia de maturidade e responsabilidade acrescida te deixe voar. Vai, sei que voltas E ainda que não voltes, sempre aqui moras. Não vás. Vai, é o meu intuito. Fica, quero-te perto. Dói muito. Dói pouco. Quero que sejas, aí. Vejo-te daqui e tu vês-me a mim. Mas que vás, sempre. Agora, querida amiga, que a possibilidade de te voltar a ver seja menor que o benefício que tirarás desta fuga. Contarei, para sempre, até três. Recordarei, para sempre, como foste e és. Do teu futuro, concluirei, com certeza, a tua chegada ao templo da tranquilidade. Parabéns.
Inês Freudenthal
Fevereiro, 2021
Foto de Manuel Rosário