Devíamos estar todos sentados na relva, num parque, a sentir uma brisa calma e a fruir os benefícios da Revolução de Abril. A navegar suavemente nas benevolências da democracia e da justiça para todos. E a sentirmo-nos felizes como quando realizamos uma paixão.
Em vez disso angustiamo-nos com a possibilidade de alguns fazerem mau uso da liberdade e, à boa maneira dos porcos triunfantes, aproveitarem para reivindicar a razão da força para os seus desejos menos idílicos.
Em defesa dos factos, a escolha e a capacidade de alterar a realidade a que agora assistimos como um desfecho possível e indesejável, é a mesma que permitiu Abril de 74 e a mudança significativa nas nossas vidas desde então.
O sistema é justo e funciona para qualquer lado. Os sonhadores devem contemplar simplesmente a possibilidade de agir bastante mais em prol da manutenção das suas adoradas utopias. Sonhos vigilantes e concretizados no dia-a-dia deixam menos espaço a pesadelos totalitários.
Ter por garantida a felicidade é não entender nada da natureza das coisas. É como não abrir o guarda-chuva durante as primeiras gotas da tempestade.
Este mundo é um calvário de trabalhos e é preciso aprender a gozar as alegrias da participação activa nos sonhos. Acabar o dia com a satisfação de o ter passado a depositar mais um tijolo na fundação certa é a garantia de que o amanhã nunca nos parecerá desanimador.
Viva Abril e a sua justiça.
Marita Moreno Ferreira
25 de Abril, 2021
Ilustração de Marita Moreno Ferreira
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couves e outros caldos
Ontem publiquei este texto no facebook: "segunda-feira, finalmente. o corpo pede uma corridinha pelas dunas, mas a cabeça entra em alerta vermelho: há couves que julgam que são pessoas e se põem a correr sem máscara e sem distância social aceitável. correm com muita habilidade e muito perto dos outros.