EDUARDO LOURENÇO
Chegou, trazia livros consigo
e a paixão de Pessoa
perdido num labirinto.
Labirinto de infinito…
Logo disseram alguns
é pensador pessoano.
Pessoano, coisa estranha
nome que o definiu
e nunca lhe tinham dito.
Ele nunca foi ver a Arca
a que tinha os papéis todos
todos desarrumados…
ele, que era pensador,
queria o pensar ordenado.
E não eram só papéis
Ele queria o seu país,
mandar na Revolução
dar alguma orientação
que o pensamento ajudasse:
sonho tão imperfeito
que o levou para longe
para lugares mais distantes
utopias
disparates
e egoísmos constantes.
Pensar em si é melhor
do que mudar este mundo
ou um país tão cobarde
que nunca se chega ao fundo
de alguma ideia mais nobre…
Somos feitos de imperfeito,
de ambição desmedida
melhor nisso foi Pessoa,
bebeu,
por um tempo divertiu-se,
fingiu que se desdobrava
em tudo o que tinha escrito
e que mantinha escondido
e não perdeu tanto tempo
a despedir-se da vida
(in memoriam imperfeito)
Yvette K. Centeno
1-2 de Dezembro, 2020
Fotografia de Labirinto da Saudade, obra de Eduardo Lourenço, adaptada ao cinema por Miguel Gonçalves Mendes