Um “paraíso prometido” mais perto do céu
Os hotéis caros não são do nosso hábito. Mas a ocasião era celebrativa e o Waldhaus derrete a crispação do custo. Logo me apanho a racionalizar: é pela empregada que não tenho, o carro que não troco ou até as jóias de que não sinto falta.
As janelas do quarto abrem-se sobre a paisagem que encanta. Lago, montanhas, floresta, nuvens, sol, lua reflectem na sua interacção algo inescapável da vida: a mudança, que é constante, mesmo que ancorada no que nos parece sólido e eterno.
Como diz o seu anúncio: “Waldhaus Sils a family affair ”. O Hotel, no canto do esplêndido lago Sils, ainda pertence, e é gerido pela mesma família que o sonhou e construiu em 1908.
Não é só a presença diária dos donos no dia a dia do hotel, em conversas com os hóspedes durante as refeições, no Hall da entrada, ou até num aceno sorridente ao ver os hóspede dançar ao som da pequena orquestra no bar depois do jantar, que nos faz sentir o ambiente especial do hotel. Muito importante também é a naturalidade, e eficiência profissional descontraída, dos empregados sempre capazes de encontrar um momento para interromper o serviço e contar uma história: a sua história pessoal.
Embora sejam os desportos de Inverno que mais visitantes trazem ao Waldahaus, é no verão que a montanha é mais generosa. A floresta, as flores, os pássaros, rios, fontes de água oferecem caminhadas extraordinárias.
Mas foi talvez a boiar nas límpidas águas do lago, olhando as escarpas rochosas, as neves eternas e o balancear dos pinheiros da floresta que mais senti a minha privilegiada presença naquele “Paraíso – prometido”.
“ A indústria do lazer – é, pois, expressão derradeira de um novo paradigma de conceptualização do paraíso. Não é necessário demorar-nos para concordar que a retórica de alem foi assimilada pelo turismo. Expressões como “ paraíso”, “céu”, “sonho”, “oásis”, “do outro mundo” e “ éden” preenchem prospectos turístico…”
in Do Paraíso: para uma teoria da salvação na era da globalização
Ensaio de Ivo Lima Carmo
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Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário