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Os 4 Rs da educação

O Instituto ETH de Zurich sugeriu num artigo recente que, dentro de certos contextos, o Homo Economicus egoísta e centrado em si próprio pode evoluir para o Homo Socialis mais centrado no “outro” e menos focado no seu lucro.
A capacidade de nos “centrarmos no outro” é inata ao nosso cérebro.
Sabemos que temos circuitos neuronais, que incluem áreas relativamente recentes do cérebro, especializados em imitar as acções motoras e emoções do “outro” e assim sintonizar com os outros, não só para lhes adivinharmos as intenções, mas também para nos “sentirmos sentidos” e vice versa.
Resultados da investigação nas áreas de secure child-parent attachment, mindfulness e neurociência são concordantes numa lista de funções destas áreas:
Regulação do corpo, comunicação sintonizada, regulação da emoção, flexibilidade de resposta, insight, empatia e regulação do medo. Daniel J. Siegel MD, sugere mais duas: intuição e moralidade.
Estes circuitos que nos trazem funções fundamentais para a integração humana na complexa sociedade moderna que criámos necessitam de estimulação. Do bom funcionamento destes circuitos também resulta bem estar mental, relacional e mesmo fisiológico.
Ora, sempre foram as próprias relações sociais que criaram as necessidades neuronais capazes de lidar com as mais variadas situações em que um ser Humano se poderia encontrar. Uma das peças fundamentais do desenvolvimento neuronal são as “narrativas” a que a família se dedicava no dia-a-dia que incluía não só os avós, contadores de histórias, mas também a presença mais forte de vizinhos e amigos na vida dum núcleo familiar mais alargado.
Embora sempre tenha existido a necessidade da passagem de conhecimento através de formas de educação é no século XVIII que pela primeira vez se ouviu a expressão the 3 R’s of education por Sir William Curtis, membro do parlamento Inglês, num discurso ao Board of Education. Referia-se a Reading, wRiting and aRithemetics. Havia que trazer populações inteiras para o mundo moderno, para as fábricas, para a produção em massa.
De lá para cá conhecemos o que aconteceu! Este nosso cérebro, tão apuradinho em antecipar o outro, em compreender o outro e a si mesmo, tem agora outras funções.
As nossas escolas baseiam o ensino na aprendizagem de factos e técnicas. As crianças crescem num “mundo de coisas”. E como coisas nos tratamos uns aos outros. Será para isto que desenvolvemos este extraordinário cérebro?
Em casa não há ninguém. As vidas das crianças são como as nossas, uma correria sempre focada no exterior, em coisas e sempre com muita pressa. À noite, quando se juntam, estão todos cansados, não há tempo para narrativas e as “ mentes” são canalizadas pela TV.
Mas hoje há estudos científicos que mostram que a introdução, na escola, de práticas de “Reflexão” ou “Mindfulness” não só estimulam os tais circuitos neuronais de sintonia interpessoal e pessoal, trazendo todos os benefícios que já mencionei, mas também melhoram o rendimento escolar.
Imaginem a mente como um ecrã que podemos observar. Que raio de filme é que se está a passar na mente destas crianças? Certamente tremido e desfocado, impossível de olhar com clareza.
Estas práticas de “Reflexão” ajudam-nos a estabilizar a mente. E não são mais do que uma forma de narrativa onde se encoraja uma mente aberta, curiosa, capaz de aceitar os factos tal como eles são e sempre com carinho pelo próprio.
Porque não juntar um 4º R à educação?

Minnie Freudenthal
Outubro, 2013

Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário

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Escrito por

Alice Minnie Freudenthal, médica Internista pelo American Board of Internal Medicine e Ordem dos Médicos Portuguesa. Áreas de interesse; neurociência, nutrição, hábitos e treino da mente. Curso de Hipnose clínica pela London School of Clinical Hypnosis. Curso de Mindfulness Based Stress Reduction. Palestras e Workshops de diferentes temas na área da neurociência para instituições académicas, empresas e grupos.

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