…e serviu comida e água a seus pequenos animais: ressonam agora tranquilos. Já carpiu e regou os dois canteiros da horta, colheu o que havia a colher: couves, quiabos, alfaces, cenouras e tomates enfeitam a cozinha. Podou escrupulosamente o manacá, o pé de acerola e a pitangueira. Visitou as abelhas em sua faina: tão diligentes, sempre pressurosas, não há tempo a perder, não há tempo a perder, não há. Os beija-flores, rapidíssimos, também parecem dizer que não há tempo a perder…
Agora se dá conta de que são horas; apressa-se também, sai do fast-food, percorre a quadra esquivando-se de um rio de apressados como ele, chega ao prédio onde trabalha e entra no elevador quase lotado que o levará novamente ao sétimo andar asséptico, refrigerado, indistinto não fosse a placa acrílica com o numeral no corredor. Adentra a grande sala e, resignado, enfia-se em seu cubículo, entre duas dezenas de outros cubículos, onde ficará até quase ao por do sol, que não verá. Apenas um receio o acompanha: como ocultar dos colegas, pelo restante da tarde, esses grãos de pólen na gravata, a terra sob as unhas, algumas pequenas folhas nos ombros, essa obstinada réstia de luz no olhar? O que dirá a eles, se lhe perguntam por onde andou?
Henrique Chaudon
Setembro, 2017


Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário
Henrique chaudon | 2017-10-14
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Muito feliz por ver meu texto compartilhado neste espaço privilegiado! Grato!
Miriam Chaudon | 2017-10-16
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De uma simplicidade tocante e maravilhosa o seu texto!
Henrique Chaudon | 2017-10-22
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Grato, maninha!