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Museu de Cerâmica de Osaka

Há pequenas jóias nos museus que nos surpreendem. Foi o caso duma inesperada coleção de caixas de rapé exposta numa sala do Museu de Cerâmica de Osaka.

O hábito de cheirar rapé ou tabaco moído, parece ter sido introduzido na Europa pelo padre franciscano Ramon Pane em 1493, no regresso da segunda viajem de Cristovão Colombo ao Novo Mundo, após ter observado este costume no seio das populações indígenas das Antilhas. A partir de Espanha, este hábito difundiu-se rapidamente pela Europa, onde sobreviveu durante séculos, principalmente devido à crença generalizada nas propriedades medicinais deste pó.
Foi esta crença que levou Catarina de Medicis a usar o rapé para tratar as suas persistentes dores de cabeça e a popularizá-lo no seio da Corte francesa, onde ficou conhecido por Herba Regina e se transformou em moda de luxo.
Em 1665-1666, durante a Grande Praga de Londres, os britânicos estavam de tal modo convencidos das propriedades benéficas do rapé, que o seu consumo sofreu um aumento prodigioso e o seu uso espalhou-se não só pelo resto da Europa como chegou ao Japão e à China.
Mas nem tudo foram rosas no comércio e no consumo do rapé. No século XVII, o Papa Urbano VII proibiu a sua utilização nas igrejas e ameaçou excomungar quem dele fizesse uso. Também o Czar Michael I da Rússia proibiu a sua venda e instituiu como castigo que se cortasse o nariz aos eventuais consumidores.
Apesar disso, durante séculos, o rapé continuou a ser a forma de consumo de tabaco preferida pelas elites e curiosamente, em Inglaterra, com a atual proibição de fumar em lugares públicos, tem-se vindo a assistir ao retomar desta tradição. Não é, por isso, de estranhar que a caixa de rapé que ainda hoje existe à entrada da House of Commons, ao dispor dos membros do Parlamento, seja actualmente alvo de várias polémicas .

Apanhados de surpresa e sem tempo para nos debruçarmos mais profundamente sobre a história do rapé, limitámo-nos a apreciar as lindas caixas onde se guardava o tabaco moído.

Minnie Freudenthal
Fevereiro, 2019

Fotos de Minnie Freudenthal e Manuel Rosário

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Escrito por

Alice Minnie Freudenthal, médica Internista pelo American Board of Internal Medicine e Ordem dos Médicos Portuguesa. Áreas de interesse; neurociência, nutrição, hábitos e treino da mente. Curso de Hipnose clínica pela London School of Clinical Hypnosis. Curso de Mindfulness Based Stress Reduction. Palestras e Workshops de diferentes temas na área da neurociência para instituições académicas, empresas e grupos.

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Últimos comentários
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    Le texte et les photos sont magnifiques ! Merci !

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    Simplesmente magnífico!! Nem sequer falta a cruz suástica.

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    Olá, qual a localização, o site, deste museu?
    Grata

    • Cristina Gonçalves

      Este museu fica em Osaka e não em Kioto (como por lapso foi publicado) e o site oficial do museu é o seguinte: http://www.moco.or.jp/en/
      Muito obrigada por nos ter contactado, foi através do seu comentário que demos conta do erro cometido. Até breve!