A Falácia da Composição
(em itálico algumas noções erradas)
O que é bom para cada um é bom para todos
Se num campo de futebol, a assistir a um concerto rock, nos pusermos na ponta dos pés, ganhamos vantagem sobre os outros que nos rodeiam.
Mas se todos fizerem o mesmo, volta-se à estaca zero, com um geral desperdício de energias e dores na barriga das pernas. E quando descansamos com as plantas dos pés bem assentes no chão, deixamos de ver o que quer que seja, para lá das costas da pessoa à nossa frente em pontas de pés.
No poupar é que está o ganho
Individualmente, sermos poupadinhos é uma qualidade com vantagens óbvias. Os perdulários acabam sempre com problemas financeiros.
No entanto, se desatarmos todos a poupar, a economia colapsa. Menos despesas, menos receitas, mais estímulo para poupar, e assim por diante e por aí abaixo.
As despesas do governo serão fundamentais para compensar esta quebra na procura agregada.
A microeconomia é diferente da macroeconomia.
O Governo tem que cobrar impostos para cobrir as despesas correntes
Durante a guerra civil nos EUA, o governo imprimiu todo o dinheiro que precisou, sem limites de qualquer espécie (por aí nada de novo, hoje em dia é o mesmo). Os impostos serviam para obrigar ao uso do dólar, por ser a única moeda aceite pelo fisco e evitar o uso generalizado de moeda estrangeira, na altura o dólar mexicano. Além disso, serviam também para retirar de circulação quantidades astronómicas de papel moeda, controlando a inflação e o açambarcamento das notas.
As despesas do governo criam os fundos para pagar os impostos e não o inverso. Exactamente ao contrário da nossa economia familiar. E não há qualquer relação entre os proventos dos impostos e as despesas do governo.
Num país com moeda própria, os impostos servem para controlar o poder de compra geral e evitar a inflação. Além disso, o cidadão é obrigado a trabalhar. Ao diminuir, com impostos, o poder de compra agregado e ao facilitar o crédito para consumo, garante-se a criação de um exército de escravos endividados.
E exorciza-se a grande ameaça às classes usurárias:
O Lazer do contribuinte.
Mas tem que se dizer ao povo que esse dinheiro cobrado é fundamental para as despesas correntes. Torna menos dolorosa a colecta e sempre se adoça a boca do contribuinte.
E essas notas todas, pagas pelos cidadãos ao fisco ?
Incineradas !
O deficit comercial é mau
Na troca por bens reais (automóveis, aparelhos electrónicos, gadjets, etc), depositamos o dinheiro ajustado para o negócio, nas contas que o Japão e a China têm no Banco Central dos EUA (o *FED).
Tudo pago, assunto arrumado, não há qualquer dívida residual.
Para os chineses esse dinheiro:
1-pode ser deixado em hibernação, ou
2-usado para importar bens americanos, ou
3-usado para comprar títulos do tesouro americanos, ou
4-usado “à distância” fora dos EUA, como base e garantia nas trocas financeiras entre Bancos Centrais de outros países, uma vez que todos e cada um deles têm contas no FED. Neste último caso, o dinheiro passa entre essas contas no FED, reflectindo as transacções entre eles, lá longe no estrangeiro.
Os chineses e japoneses, geralmente, optam por comprar títulos do tesouro, “emprestando” esse dinheiro ao governo americano para despesas correntes. E o governo gasta o que lhe apetece, independentemente do numerário nessas contas em títulos do tesouro. O termo “emprestar” é mistificador. O dinheiro que estava numa conta à ordem no FED (as respectivas reservas japonesas e chinesas), passa para uma conta a prazo no FED (em títulos do tesouro). Quando é exigido o “pagamento da dívida”, o dinheiro passa simplesmente duma conta a prazo (em títulos do tesouro) para uma conta à ordem (as respectivas contas japonesas e chinesas), e tudo volta ao princípio.
Uma mera manipulação de números, na folha de balanços do FED.
Sem limites.
E o “terrível” deficit comercial tem sido uma benesse e um privilégio exorbitante. Trocamos bens reais por números virtuais, na folha de balanços do FED. E quando os chineses e japoneses desatarem a comprar e importar bens reais americanos, vão ter que pagar preços actuais e não os preços de há quarenta anos.
E tem sido assim desde então. E em vez de aumentar os salários e o poder de compra dos americanos, de modo a que possam comprar tudo o que os estrangeiros têm para vender, MAIS tudo o que é possível produzir nos EUA (acabando assim com o desemprego), o Trump quer ocupar os americanos a fabricar o que os orientais nos têm mandado ao preço da uva mijona, pagando essas importações com bens reais, fabricados nos EUA e diminuindo o “terrível“ deficit comercial.
É o começo do fim de tão confortável arranjinho do pós-guerra.
José Luís Vaz Carneiro
Tucson, Fevereiro 2019
Baseado no livrinho “The 7 Deadly Innocent Frauds“ de Warren Mosler
*FED (Federal Reserve Department)
Foto de Manuel Rosário
Yvette Centeno | 2019-02-03
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É tão verdadeiro que dá dores de cabeça a quem tem cabeça…aprendo sempre com ele.