Deméter-Perséfone
(à Fernanda Lapa, in memoriam,
evocando as Leituras Maravilhosas)
Deméter tinha saudades,
queria a filha que amava ao pé de si.
No seu reino de sombra
quem mandava era Hades
bastava o nome para encher de terror
os mais heróicos…
Pediu ao rei
traz-me tu a minha filha de volta
os outros não são capazes…
sem ela não viverei.
Perséfone é o seu nome
dizer o nome
é entregar a vida
ou ma trazes de volta
ou me levas a mim
ficarei longe
não morrerei
mas ficarei para sempre
adormecida…
Hades fez-lhe a vontade,
amava aquela mulher,
a Grande-Mãe da terra
mais fértil, mais florida.
Trouxe Perséfone consigo,
partilhariam ambas coroas divididas,
uma feita de luz,
outra feita de treva
e o rei feliz no meio
fechando essa ferida
Yvette Centeno
Lisboa, 7 de Agosto de 2020
E agora digo:
Se fôr para morrer
que seja devagar
não quero morrer já,
quero filhos e netos aqui
ao pé de mim
e se chegar o momento
pois tudo tem um fim
excepto a salsicha que tem dois
como dizia a Fernanda Lapa
e se apressou a partir antes de mim.
Yvette Centeno
8 de Agosto, 2020

Isabel+Almasqué | 2020-08-17
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Poemas tão belos só podem ser espelho duma amizade profunda.