“Luís, temos que ir à Turquia ver azulejos”, disse eu ao meu sócio na fábrica de Azulejos de Azeitão, há poucos anos.
Criámos esta fábrica em 2005 para continuar a tradição do azulejo. Mas não só a tradição do azulejo Português, também a de muitos outros países que têm uma longa história ligada ao azulejo.
Os centros principais de produção de azulejo, por ordem cronológica são: Irão, Sul de Espanha (Dinastia Nazari), Otomanos da Turquia (centros em Iznik e Damasco), Marrocos, Itália, Holanda, Espanha e Portugal.
Pouco a pouco, temos vindo a desvendar o mistério que é a cerâmica. Cada país tinha o seu estilo, as suas matérias-primas, havendo também umas variações na técnica de produção.
Os Europeus partilhavam a técnica da faiança, pintando sobre o vidrado de estanho. Os Orientais pintavam sobre um engobe por debaixo dum vidrado transparente. Os azulejos do Norte de África e Sul de Espanha partilhavam várias técnicas com os Orientais. A da corda seca e o alicatado
A corda seca usa um contorno de linhaça para separar as cores dos vários vidrados. Alicatados são peças de cerâmica de várias cores, recortadas, que são encaixadas para completar o desenho. Como um puzzle.
Para seguir este rumo, temos que estar sempre a aprender e a estudar, daí a razão das nossas visitas, de vez em quando, a países com história do azulejo.
A Turquia é muito especial, porque tem azulejos com cores que não se vêm em nenhum outro país, pelo menos contemporaneamente.
A rota da seda, que trazia muitas peças de cerâmica da China, passava pelo Império Otomano. Seria muito mais simples se se pudesse reproduzir a cerâmica Chinesa localmente.
Com a conquista de Constantinopla em 1453, uma época de grande desenvolvimento artístico em todos os aspectos , estende-se ao longo de cerca 150 anos.
A produção começa no terceiro quartel do séc. XV, reproduzindo as peças Ming, adaptando os desenhos das peças de cerâmica ao azulejo. O azul e branco dominava a palete dos azulejos fabricados até ao final do séc. XV.
Pouco a pouco, a introdução de cores transforma radicalmente o azulejo Otomano.
Turqueza, verde cobre, azul e sobretudo uma nova cor, nunca antes vista, que vai fazer com que o azulejo Iznik se transforme numa festa visual, a cor de coral. Tecnicamente muito difícil de reproduzir.
O auge da cerâmica Otomana, e especialmente do azulejo, passa-se na segunda metade do séc. XVI, especialmente durante o reino de Suleyman, o Magnífico.
As mesquitas, os palácios e as pedras tumulares ainda se encontram recheados dos magníficos azulejos Iznik, para nos fazer recordar que as épocas de alta criatividade foram relativamente breves. No início do séc. XVII, o declínio da qualidade deu-se abruptamente, nesta parte do mundo, renascendo na Holanda e em Portugal com grande força.
Depois desta nossa visita a Istambul, sentimo-nos revigorados para o nosso novo percurso.
Pedro Leitão
Solar Antique Tiles
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solarantiquetiles.com






O painel de azulejos de cerâmica pintada sob vidrado, Turquia, Iznik, c. 1545, pertence ao Museu Calouste Gulbenkian. As restantes fotos são do Pedro Leitão.